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Tiririca, ao se candidatar a deputado federal, lançou a pergunta que se tornaria o mote de sua campanha: "Você sabe o que faz um deputado?". Prometeu que, se eleito, contaria a todo mundo as lidas de um parlamentar. Como candidato mais votado de São Paulo, fizeram de tudo para barrá-lo, embora o alvo não fosse exatamente ele, mas o delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, eleito na aba do palhaço. Queiroz, como se sabe, tirava o sono de muita gente poderosa, no comando da Operação Satiagraha. Tiririca assumiu e tornou-se um parlamentar assíduo, assim como seu colega Romário.

Mas a pergunta sugerida nos impele a refletir, sobretudo em períodos pré-eleitorais. Já se disse com muita propriedade que "as cidades nunca estão prontas". E, por tabela, os estados e os países também nunca estarão prontos. Onde faltam empregos para um grande contingente de pessoas e qualificação, o saneamento básico é precário, o sistema de saúde é abaixo da crítica, a educação é defasada e não cumpre sua função, as doenças da subnutrição e da ausência de condições dignas de sobrevivência ceifam vidas de crianças e adultos, certamente, há muito por fazer.

Diz um sábio provérbio italiano que "entre o dizer e o fazer, existe o mar". A frase parece cair como uma luva, se a aplicarmos a grande parte dos políticos do Brasil. Quem os vê falando na tevê acredita que vive (ou viverá) no melhor dos mundos, com todos os serviços e a atenção ao cidadão funcionando perfeitamente.

Trazendo a questão para o plano municipal, até os anos 1970 os vereadores brasileiros não eram remunerados, à exceção das câmaras de capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes. Mas os salários daquela época nem se comparam aos de hoje. Um pacote de benesses do ditador Ernesto Geisel implantou a remuneração do vereador em 75% do salário de um deputado estadual. Para abolir o benefício e, em alguns casos, reduzi-lo, uma proposta foi apresentada pelo senador Cyro Miranda, a PEC 35/2012. Mas a vereança tupiniquim se uniu em bloco contra a medida e partiu em marcha para Brasília a fim de barrar o projeto, conseguindo que fosse retirado da pauta e arquivado pelo próprio autor.

As opiniões podem se dividir a favor ou contra a remuneração dos edis, e também sobre o seu valor. Mas muitos hão de concordar que entre as suas principais funções não estejam as moções de aplauso ou a sugestão de feriados, a distribuição de títulos honorários ou a troca de nomes de ruas – geralmente homenageando seus parentes e amigos. Há ainda os que preferem render louros a personalidades públicas e pessoas de destaque na mídia, em uma quase óbvia intenção de tirar uma "casquinha" na popularidade alheia. De tudo isso o pior é querer aumentar o número de vereadores nas cidades brasileiras, aumentando junto o número de assessores; um assalto ao orçamento público para aplicar no pagamento de amigos e correligionários o que deveria entrar com urgência nas necessidades básicas da população. Quando é que vão parar de engrossar o "trem da alegria"?

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