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Abigail é advogada, casada, tem filhos, tem paixão por pequenos animais indefesos e recolhe, trata e busca novos lares para eles. Bruno é administrador de empresas, dono de seu próprio negócio, canta muito bem e sempre procurou praticar a voz, gosta de ensinar crianças a usar a voz como meio de melhorar a auto-estima.

Cecília é dona de casa. Desde a infância sempre foi hábil ajudando pessoas doentes e inválidas. Dudu é estudante universitário e está sempre convencendo seus colegas a organizarem campanhas educativas: a separação do lixo é seu tema predileto. Elena é psicóloga clínica. Nos finais de semana, no entanto, sua preocupação é organizar com um grupo de amigas e seus filhos a coleta de utensílios, roupas e móveis fora de uso na vizinhança e destiná-las a famílias carentes. O que estas pessoas têm em comum? São atores sociais e buscam fazer a diferença na sua vida e na vida de outras pessoas. Por que eles fazem o que fazem?

A motivação e as razões de cada um podem ser – e são – muito distintas. A Abigail assistiu involuntariamente o atropelamento de um cãozinho e observou o zelo do motorista que recolheu o animal para ser cuidado. "Uma bela ação". Nunca mais parou. O Bruno sofreu muito com a mudança de sua voz na adolescência; teve medo de não poder cantar mais e perder sua identidade. Para ele, a voz é objeto de valorização pessoal que pode melhorar a vida de pessoas. A Cecília foi a melhor companhia de uma tia cadeirante expert em crochê e que, ao falecer, deixou-lhe seu maior tesouro: a caixa de linhas e agulhas e um olhar de agradecimento por sua paciência. Ela percebeu que o dom de transmitir bem-estar a doentes lhe faz um bem enorme.

O Dudu há pouco tempo mora na capital e, de sua infância no interior, não tem saudades do local onde a prefeitura despeja o lixo recolhido que se constitui foco de sujeira, mau cheiro, insetos e doenças para quem mora perto: pessoas muito pobres. Para ele esse é um problema que todos têm que ajudar a solucionar. E Elena teve uma infância difícil, sendo a mais nova de oito irmãos. Sempre morou na periferia e, embora não lhe faltasse o essencial, via que em outras famílias faltava muita coisa. Elena acredita que foi abençoada pelas oportunidades na vida e se acredita devedora destes privilégios.

Em todos os casos relatados é evidente a tomada de decisão pessoal, voluntária. Agem assim porque se sentem bem.

O ser humano é um ser social; salvo raras exceções, as pessoas vivem em ambientes coletivos e em comunidades: a família, a escola, o trabalho, a vizinhança, a Igreja, etc. Em todos estes meios, regras de convivência são criadas, muitas resultantes de experiências que exigiram que elas fossem criadas (já pensou um condomínio ou uma sala de aula sem regras?) e existem para melhorar o convívio entre as pessoas e seus diferentes interesses. Nos ajudam, individual e coletivamente, a vivermos melhor.

Pessoas que já passaram por experiências difíceis na vida têm naturalmente mais tendência para agirem com maior respeito pelo meio ambiente e pelo outro. São sujeitos de um maior espírito de solidariedade. É o caso daqueles que viveram os horrores de uma guerra, de uma recessão, ou de crises familiares, de superação de doenças ou traumas de perdas.

No entanto, é importante ressaltar que o agir solidariamente beneficia a pessoa que assim atua, lhe traz recompensas psicológicas ou sociais, e a faz sentir-se melhor perante si mesma e perante os outros. A pessoa é tão convincente em suas práticas sociais que consegue conquistar outros para sua causa ou sua ação. E aí cria-se uma rede de cooperação que pode ampliar os resultados alcançados.

Tais experiências acontecem em qualquer lugar e tempo. Mas elas prosperam fortemente em ambientes democráticos, onde as pessoas se constituem como cidadãos, receptáculos de deveres e de direitos civis, políticos e sociais.

Como ser político que é, o cidadão cobra responsabilidades, fiscaliza a ação pública, mas também cumpre as suas obrigações, desde cuidar de sua família, aparar a grama do passeio na frente de sua casa ou empresa, separar o lixo, deixar de dar esmola, não sonegar e não corromper. Como ser social que é, o cidadão pode e deve participar das decisões sobre o destino da sociedade, seja criando movimentos ou pertencendo a organizações sociais ou a organizações comunitárias (conselhos municipais, associações de bairro, etc.) defensoras dos interesses de seu grupo social.

Para ser um cidadão participante, é preciso estar bem informado sobre os acontecimentos e as coisas públicas.

Ana Lucia Jansen de Mello de Santana é professora de Economia e coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos do Terceiro Setor da UFPR. (sjantana@ufpr.br)

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