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O século XX nos deu uma lição: a humanidade declara guerra contra guerra
| Foto: Pixabay

Precisamos prestar mais atenção à história. Ela nos oferece subsídios importantes para entender o presente e buscar não repetir no futuro os erros do passado. Vale para o contexto pessoal, mas principalmente para a humanidade. Essa é uma das razões pelas quais amo visitar museus. Principalmente aqueles dedicados às grandes guerras do século 20.

Há quem diga que o comportamento é um tanto mórbido. Devorei livros como O Diário de Anne Frank, A menina que roubava livros, Primo Levi, O anel de noivado, Olga, O Poder das Imagens. Tudo com alguma relação com a desafiante primeira metade do século 20. Não há prazer em ver o relato de tanto horror, mas há curiosidade. Afinal, pesquisa produz conhecimento.

Histórias que tocam mais fundo, como a simbólica vida da menina judia que relatou seu próprio esconderijo em Amsterdã durante a guerra, são amostras do que as disputas bélicas podem causar. Visitar a casa de Anne Frank ou caminhar pelo bairro judeu na Holanda é como sentir nos ombros o peso da crueldade e autodestruição humana. A dor permanece viva no Anexo da Família Frank. Em Londres, o Imperial War Museum, que tem entrada gratuita, coleciona um acervo impressionante sobre a nem tão comentada Primeira Guerra Mundial. E os Churchill War Rooms permitem que cidadãos do mundo todo conheçam os caminhos subterrâneos onde o mais famoso primeiro-ministro britânico fazia reuniões secretas de cúpula e coordenava estratégias na guerra contra o nazismo. Tudo a alguns passos do Palácio de Buckingham.

Uma pena que tópicos como guerra, intolerância, perseguição e morte não sejam apenas assunto do passado. Tampouco se restringem a um perfil político. É preciso ter o olhar fixo às causas desses conflitos e entender que o saldo negativo é compartilhado por (quase) todos. O que gerou a Segunda Guerra Mundial? Quem foi derrotado? Enquanto continuarmos a atacar pessoas e países e não comportamentos, ideologias e pensamentos que estão no cerne causador de conflitos armados, não haverá como romper com o padrão primitivo da guerra. É poder. É dinheiro. É território, dominação. Alteram-se os pretextos, permanece a disputa. Que não se dá apenas pelas vias bélicas, mas também na ordem do discurso. Aquela retórica que convence e justifica todo tipo de atrocidade.

Engana-se quem entende que o espanto da Segunda Guerra ficou no século passado. Embora entusiasta e crente em um mundo cada vez melhor, admito que (des)valores que nortearam o nazismo permanecem vivos em corações e mentes corrompidos. E eles estão logo ali, no convívio familiar ou na padaria mais próxima. O fundamentalismo religioso continua arrastando nações para a intolerância, a violência e a morte. E a ganância travestida de patriotismo continua justificando invasões e destruição de territórios, comunidades e culturas. Não se trata de isolar os ignorantes, mas de construir diálogos de paz capazes de romper com o desconhecimento e de convertê-los a uma compreensão humana, comum, plural e inclusiva. A verdade liberta, disse Jesus.

A guerra não pode ser contra povos ou pessoas, e a vitória não deve pertencer a um governo. O combate deve se dar no campo da razão e da consciência globocêntrica, compreendendo que todas as culturas, raças, gêneros e religiões importam e devem ser reconhecidas com dignidade. A discriminação, o preconceito, a perseguição revelada sob qualquer forma de violência precisa ser derrotada pela humanidade. Ainda que com atraso desproporcional à nossa evolução, rompamos com o horror da guerra – do micro para o macrocontexto. Que o século 21 seja o século da guerra contra a guerra. E que a humanidade vença.

Ester Athanásio é jornalista, mestre em Comunicação e doutoranda em Políticas Públicas.

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