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Onde jogar o lixo da região de Curitiba? Nos últimos dias te­­mos escutado cada vez mais essa pergunta, que está errada. Temos de mudar a questão para "Como gerenciar o tema de resíduos na região de Curitiba?".

Passou o tempo em que a questão era apenas escolher um local para depósito. Hoje isso é inaceitável por várias razões: faltam espaços, consequências ambientais, reação da comunidade e restrições da legislação.

Também passou o tempo de enfrentar essa questão com uma visão estratégica, Agora é tentar resolver a urgência gerada pela falta de planejamento no passado.

A abordagem sistêmica vai requerer ações integradas, planejadas e executadas coordenadamente. Não acredito que a discussão isolada de uma das partes resolva de forma adequada o problema. Há tempos sabemos que as soluções na linha do desenvolvimento sustentável são interdisciplinares. Para esse problema não existe alternativa fácil, haverá elevado custo financeiro, ambiental, emocional e político.

Na minha visão os temas que deveriam estar considerados em uma abordagem sistêmica e ampla da questão são educação, financiamento, estudos ambientais, transporte e alternativas de reuso, reciclagem, processamento, destinação e locação.

Será necessário reestudar a eficácia da educação, que deve estar voltada para a sustentabilidade ambiental e preparar o atual e fu­­turo cidadão para ser ativo nas decisões da cidade. O sistema de cus­­to e financiamento deverá ser repensado. Cada empresa, entidade e cidadão deverão arcar com a vantagem e com o ônus das suas opções de economia ou desperdício de resíduos.

Sem sujeição a interesses econômicos, deveríamos considerar com base em argumentos técnicos e financeiros, mas também éticos e ambientais, alternativas como reuso e reciclagem. A separação e processamento para outras finalidades como reaproveitamento da ma­­téria orgânica, pavimentação e outros podem contribuir para amenizar os volumes. Nos casos em que outras alternativas não se­­jam desejáveis, as alternativas de destinação de resíduos, como aterros sanitários e incineração, devem ser selecionadas considerando seus impactos ambientais locais, regionais e globais, escolhendo aquelas que resultem em impactos admitidos como toleráveis. Nesse aspecto minha visão é de que optar por uma seleção de pequenos e médios aterros controlados é mais interessante que uma megaestrutura, com os megaimpactos e megarriscos associados, além da economia de transporte e da ampliação das possibilidades de gestão.

Adicionalmente o tema exigirá uma competente negociação política, baseada nas alternativas geológicas de locação de depósitos, estações de transbordo e aterros sanitários. Nada será corretamente encaminhado sem uma discussão adequada, baseada numa competente e honesta informação sobre os impactos nas comunidades envolvidas. Esta discussão deve envolver o esclarecimento e busca da aceitação do ônus pelas comunidades das áreas afetadas, que deverão ser compensadas por isso.

Como disse, a resposta tem custo financeiro, ambiental, social e político. O problema é metropolitano e imediato, mas o bônus é de médio e longo prazo. Por isso ninguém responde, e por isso a pergunta não cala.

Renato Eugenio de Lima é geólogo, professor de Geologia Ambiental da UFPR e consultor da ONU

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