Compro muitos livros e, às vezes, sem muito critério. O resultado é que, no meio das pilhas de livros desconhecidos, acabo descobrindo verdadeiras pérolas. Aprendi que as melhores obras não são as mais vendidas. Pode até haver coincidência entre qualidade e quantidades vendidas; mas apenas coincidência. Embora eu não tenha preconceito em relação a estilos, nos últimos tempos ando reticente com esses gurus de administração, sobretudo os americanos, que têm escrito muita coisa de segunda categoria.

CARREGANDO :)

Um livro que me surpreendeu positivamente foi Como as Gigantes Caem, de Jim Collins. Somente as primeiras 20 páginas já justificam a obra. Ao estudar por que grandes organizações, aparentemente sólidas, acabam ou decaem, Jim Collins elaborou uma lista com cinco estágios do declínio, que pode ser aplicada à nossa vida profissional e ao mundo dos negócios. Lembrando que "a ruína iminente se insinua em silêncio", certo executivo afirmou que "quando você está com tudo, é a nação mais poderosa do mundo, a empresa de maior sucesso do seu setor, o melhor jogador do seu jogo, seu próprio poder e sucesso podem ocultar o fato de que você já está no caminho do declínio". Então, como é possível saber?

Estágio 1: o excesso de confiança proveniente do sucesso. Pessoas e empresas de sucesso podem ser vítimas do que eu chamo a "transposição da linha divisória" entre autoconfiança e arrogância. Eu quero que o meu médico seja autoconfiante, mas não quero que ele seja arrogante, a ponto de se achar infalível. A linha que separa uma coisa da outra é tênue, e o sucesso pode levar o indivíduo a ver a si mesmo blindado contra o fracasso. A partir daí, erros começam a ser cometidos.

Publicidade

Estágio 2: a busca indisciplinada por mais. A arrogância do estágio 1 leva o profissional ou a empresa a buscar sempre mais (mais crescimento, mais poder, mais aplausos), de forma não planejada e indisciplinada. É quando a pressa confusa substitui o planejamento zeloso. Um alpinista que subiu várias vezes a mesma montanha pode subestimar as dificuldades, confiar demais no seu talento e ser menos diligente. E aí ele cai. Planejamento, disciplina, capacidade de ouvir são as primeiras virtudes que os arrogantes perdem, e passam a crer no "eu sou um sucesso, logo, posso tudo".

Estágio 3: a negação dos riscos e dos perigos. Neste estágio, as pessoas e as empresas arrogantes não conseguem perceber os sinais de que algo está errado ou, então, começam a negar os problemas, os riscos e os perigos. Uma jornalista escreveu na revista Exame que "quanto mais longo for o histórico de sucesso, mais próximo está o dia em que erros serão cometidos". Há tantos empresários, executivos e políticos, arrogantes e soberbos, que acabaram falidos, humilhados e desprezados pela sociedade e por antigos bajuladores. Mesmo assim, eles não culpam a si mesmos; preferem culpar o governo, o mercado, os outros. Aqui mesmo no Paraná há vários exemplares dessa espécie.

Estágio 4: a luta desesperada pela salvação. A passagem da pessoa ou da empresa pelos estágios anteriores leva ao estágio 4, e aí começa a luta desesperada e desorganizada para salvar a carreira ou o negócio. A essa altura, as pessoas já não fazem as coisas certas e tentam saídas ridículas e impróprias. Como disse Vilfredo Pareto, economista do século 19, "é inútil confiar a quem destruiu uma máquina a tarefa de reconstruí-la". Os arrogantes até tentam algum lance de sensatez, mas, em geral, o fazem tarde demais, quando o fracasso está iminente.

Estágio 5: a entrega à irrelevância ou à morte. Há empresas que sobrevivem, mas passam a ter uma existência irrelevante, longe do brilho anterior. Outras agonizam por anos até o fim total. Outras mais quebram rapidamente e algumas ainda conseguem ser vendidas e incorporadas por concorrentes mais competentes. Milhares de empresas familiares viveram essa experiência, e fortunas foram dizimadas no desaparecimento de grupos empresariais aparentemente sólidos e inquebráveis.

Como o espaço deste artigo não me permite mais do que algumas pinceladas sobre o assunto, o livro de Jim Collins justifica as duas horas de leitura que nele gastei (lendo devagar). Recomendo.

Publicidade

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo