A elevação da taxa de câmbio do dólar nos últimos tempos é vista pela maioria das pessoas como indesejável, uma vez que, para uma parcela da sociedade (no nosso caso, a menor), a preocupação reside em questões relacionadas a viagens ao exterior ou às mercadorias importadas (eletrônicos e alguns gêneros alimentícios, por exemplo), que se tornaram mais caras.

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No entanto, a preocupação deveria ir muito mais além do que o consumo. Considerando-se a expressão coeteris paribus, utilizada sobretudo pela economia, duas consequências mais comuns, uma positiva e outra, negativa, podem decorrer da elevação do dólar: o aumento das exportações e a pressão inflacionária. A expressão latina significa “tudo o mais constante”, ou seja, os elementos que poderiam influenciar uma determinada variável mantêm-se inalterados.

Com relação ao primeiro efeito, é importante saber que a valorização da divisa internacional representa a desvalorização relativa da moeda doméstica, o que significa dizer que, agora, são necessárias mais unidades de real para adquirir uma unidade de dólar, ou menos unidades de dólar para adquirir uma unidade de real. Dessa forma, torna-se mais fácil a quem possui a moeda norte-americana, consumir as mercadorias aqui produzidas.

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Percebe-se que a desvalorização da moeda doméstica frente à moeda internacional acaba por estimular as vendas ao exterior

Considerando, inicialmente, uma taxa de câmbio de R$ 2/US$, uma mercadoria cujo preço seja R$ 100 custará, na moeda norte-americana, US$ 50. Caso o dólar passe a valer R$ 4, o mesmo bem terá seu preço reduzido para US$ 25.

Portanto, percebe-se que a desvalorização da moeda doméstica frente à moeda internacional acaba por estimular as vendas ao exterior, pois as mercadorias nacionais ganham competitividade via preço. Isso, em princípio, incentivaria as empresas a produzirem mais, contribuindo para a elevação do Produto Interno Bruto (PIB), que seria “puxado” pela demanda externa. Ou seja, a alta do dólar é favorável para as empresas do setor exportador.

A segunda consequência está relacionada à pressão inflacionária. Uma desvalorização da moeda nacional, por aumentar as exportações, acaba por reduzir a oferta interna de bens, o que pode acarretar uma elevação em seus preços. Além disso, como cada unidade de real está valendo menos, os produtores desejarão elevar os preços como forma de preservar o valor de suas mercadorias. Isso exigirá do governo a adoção de medidas anti-inflacionárias, como a elevação da taxa de juros.

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Há que se notar que, no caso contrário, de valorização do real, os efeitos serão, também, contrários. A exportação será prejudicada, mas a importação será beneficiada, o que pode, se não houver algum tipo de controle, desestimular a produção nacional, reduzindo, assim, os níveis de emprego e renda do país.

Pela maior oferta de bens no mercado interno, a tendência é que os preços sofram uma redução. Mas haverá pessoas empregadas e renda suficiente para o consumo, mesmo a preços mais reduzidos? Outras questões se colocam. Existe uma taxa de câmbio de equilíbrio? Como determiná-la? Essa seria a melhor taxa para uma dada economia?

São questões bem difíceis de serem respondidas, uma vez que a determinação dessa taxa dependerá de diferentes variáveis que podem modificar rapidamente.

Gabriel Mamed, professor de Economia e Finanças da FMP/Fase.