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Os excessos corporativistas sangram o país

Nada mais atual que comprovar o rápido desmonte de nosso patrimônio natural em troca da permissividade na exploração excessiva dos solos

São incalculáveis os resultados que os mais diversos grupos de interesse setorial já amealharam para si no Brasil. É tamanho o sucesso desses grupos que passam a ser referência para aqueles que ainda lutam de forma determinada para conseguir estabelecer uma prática semelhante, visando também conquistar suas benesses específicas.

A diversidade de iniciativas em torno da “defesa dos interesses”, no entanto, não deveria avançar para além de limites que caracterizam uma conquista legítima. Não faz qualquer sentido a concessão de uma melhor condição a um determinado setor se esta gerar um prejuízo relevante e não justificável a terceiros, ou mesmo para todo o conjunto da sociedade.

A perda do controle sobre até onde podemos buscar vantagens que representem uma distinção frente aos demais cidadãos é uma patologia de comportamento de consequências que podem ser extremamente sérias. São motivações que em nada se aproximam do real interesse público.

Comprometemos a busca pela manutenção de áreas naturais entremeadas entre as propriedades

Há poucos anos, passamos por uma modificação profunda do Código Florestal brasileiro, a despeito de 87% da população ser contrária às mudanças. Houve pleno sucesso na empreitada liderada pelo ruralismo. Os interesses específicos desse grupo foram mais relevantes para o Congresso Nacional que princípios técnicos e a própria vontade da população. Comprometemos com isso a busca pela suficiente manutenção de áreas naturais entremeadas entre as propriedades privadas.

Nada mais atual que comprovar o rápido desmonte de nosso patrimônio natural em troca da permissividade que representa a exploração excessiva dos solos e a sua sistemática degradação, em muito curto prazo. A perda de produtividade de amplas áreas utilizadas para a agricultura nacional e o avanço do desmatamento em todos os pontos do país são temas de interesse e responsabilidade de toda a sociedade e deveriam ser amparados por políticas públicas nesse sentido.

Um exemplo é o drama sem precedentes ocasionado pela mineração em Minas Gerais. Ao mesmo tempo, no Congresso Nacional, discutem mudanças na legislação da mineração, considerada “excessivamente exigente” pelo setor, prejudicando o andamento pleno da atividade econômica.

Sem o estabelecimento de limites e de uma presença mais determinada e responsável do Estado brasileiro para nortear até onde podem avançar quaisquer tipos de práticas corporativistas, seguiremos em uma sociedade injusta e que gasta suas energias em busca de vantagens individuais, competindo de forma perversa com outros grupos. São práticas que não representam vantagens coletivas e que se misturam com a prática da corrupção, que já nos aflige de forma generalizada.

A crise política que assola o país está certamente relacionada com o desvio de comportamento representado pelo avanço exasperado de vantagens indevidas que não param de ser vivenciadas no Brasil.

O Executivo, o Legislativo e o Judiciário são responsáveis por não permitir que avanços em conquistas setoriais ultrapassem os limites do que prega a boa ciência e a necessária ponderação sobre efeitos que prejudiquem os demais cidadãos. Estruturas que lutam por conquistas de comprovado interesse público e combatem o corporativismo indevido, como o Ministério Público e diferentes frentes não governamentais, precisam ser mais valorizadas. Assim, conseguirão fazer frente às tentativas setoriais de atropelar o próximo.

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