Quem acompanha as notícias sobre a escassez de água em São Paulo sabe o quão grave é a situação naquele estado. No Paraná, a condição não é crítica, mas estiagens já provocam prejuízos na agricultura e podem vir a ser uma ameaça ao abastecimento das cidades. Projeções do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que poderemos sofrer com alterações no regime de chuvas nas próximas décadas.

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Grandes usuários de água podem fazer uma grande diferença nesse cenário, trabalhando com metas de consumo eficiente. Porém, no setor industrial, poucas são as empresas que conhecem sua pegada hídrica – a quantidade de água doce utilizada em uma atividade ou produto. Mensurar o impacto da produção é o primeiro passo para identificar focos de desperdício e aperfeiçoar processos. Somadas a essa iniciativa, outras medidas, como a captação de água de chuva e o reuso da água, têm o potencial de gerar economia substancial e trazer segurança à operação de empresas de qualquer porte. Recentemente, bancos brasileiros passaram a considerar os recursos hídricos na análise de risco das empresas candidatas à concessão de empréstimo – que representa um importante pilar na gestão dos negócios.

Além das indústrias, o agronegócio é outro grande consumidor de água. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 60% da água usada em irrigação no mundo é desperdiçada. Reduzir essas perdas em 10% poderia abastecer o dobro da população mundial dos dias atuais. No Brasil, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), a irrigação é a maior fonte de utilização de água.

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As empresas e os grandes produtores rurais – assim como os governos – precisam ter na conservação da natureza uma das principais ferramentas para garantir a segurança hídrica de toda a sociedade. O estudo global Plano da Água nas Cidades, divulgado em novembro de 2014 pela organização ambiental The Nature Conservancy (TNC), demonstra que a aplicação de recursos em conservação de nascentes é um investimento que se paga ou traz um retorno financeiro positivo para os investidores. Por exemplo, para cada 10% de redução no aporte de sedimentos que chegam aos rios e represas, por meio de iniciativas como a restauração de florestas ribeirinhas, cai em 5% o custo do tratamento de água.

Outra ação eficiente é o uso de sistemas de pagamento por serviços ambientais (PSA) como forma de contribuir para a segurança hídrica. Na cidade de Extrema (MG), por exemplo, o PSA complementa a renda de centenas de produtores rurais que preservam as florestas em suas propriedades, ajudando a garantir a saúde das nascentes que abastecem o sistema Cantareira, principal fonte de água da capital paulista. No Paraná, a Lei de PSA foi assinada em 2012, e em 2014 os primeiros projetos começaram a ser efetivados.

O Estado tem o seu papel no uso racional da água. O governo do Paraná divulgou que investirá R$ 4,5 milhões em segurança hídrica. Porém, não podemos ignorar que só venceremos os desafios do abastecimento de água se as políticas públicas estaduais e nacionais contarem com a contribuição dos grandes consumidores de água e se as indústrias e os produtores rurais se posicionarem ativamente como parte da solução, em um tema tão essencial à vida.

Marília Borgo é especialista na Estratégia de Serviços Ambientais da The Nature Conservancy (TNC).

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