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Recebi, pouco tempo atrás, em meu e-mail, um projeto de lei que propõe a isenção da cobrança de estacionamento em restaurantes. Fiquei perplexo. Sob o efeito das minhas angustiantes emoções, respondi à Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel), colocando meu ponto de vista. Mais ou menos assim:

Quem essa lei quer beneficiar? O cliente? A resposta é não. Ela não vai cumprir esse objetivo por uma questão muito simples: os custos dos estacionamentos serão embutidos na conta do consumidor. Ou o leitor acha que os custos com locação de terreno, IPTU, seguro contra furtos e roubos, vigias, manobristas e manutenção do pátio vão ser pagos por quem? Afinal, como todos nós sabemos, se um carro é roubado de dentro do meu estacionamento, quem paga essa conta sou eu. Não é o Estado: sou eu.

Essa lei pretende tornar público um espaço que é privado. Querem legislar sobre o terreno que eu comprei e pago pra manter. Fácil, não é? Populista, não é? Claro! Sempre! Então eu tenho uma contraproposta: nós deixamos de cobrar o estacionamento e também deixamos de pagar IPTU, cancelamos nossos seguros, demitimos os manobristas, e o Estado arca com os riscos de furtos e roubos de veículo. Isso me parece justo. Aí o cliente será beneficiado. Afinal, quem deve prover a segurança da população é o Estado, e, se querem transformar meu estacionamento em um espaço público, que arquem com o resto das despesas. Mas isso obviamente não vai acontecer, já que eu pago estacionamento até pra ir a repartições públicas.

Então vamos ao outro ponto da questão. A partir do dia em que você não pagar pra estacionar seu carro em restaurantes, supermercados e shoppings, você estará sendo enganado. Essa conta vai continuar sendo sua – e pior, de forma invisível, camuflada no preço de pratos, roupas, pastas de dente etc. Quando o preço daquele filé mignon que você come num restaurante for ainda mais alto do que o preço do filé mignon que você come na sua casa, você vai me perguntar: "Por que isso, Beto?", e eu vou responder "porque agora, além de todos aqueles custos que você já conhecia, você também paga para parar o seu carro".

O consumidor não quer isso; ele quer transparência. Essa lei vai na contramão da transparência. É por isso que outra lei, bem mais inteligente que essa, obriga que os impostos sejam discriminados nas notas fiscais. O cliente tem de saber de tudo aquilo que está pagando, não pode mais ser iludido e achar que todo empresário é ladrão, quando metade daquilo que está na conta é grana que vai para o governo.

Alguém irá me dizer: "Certo, Beto, você diz isso porque é dono de restaurante e está pensando em beneficio próprio". Errado, meu amigo. Eu não estou pensando no meu próprio bem, estou pensando em nós. Quero que você saia para jantar fora mais vezes sem ter a sensação de que esta sendo roubado. Quero que você saiba claramente quanto você paga pelo estacionamento, pelos impostos, pelo serviço de garçom, pelo prato. Tanto não estou pensando em beneficio próprio que, na Cantina Fadanelli, um dos meus restaurantes, nós não cobramos estacionamento, pois sabemos que o cliente vê isso como um diferencial. Mas, agora que você aprendeu, você já sabe quem paga por esse diferencial, não sabe?

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