Vivemos num mundo das modas de comportamento. Por exemplo: pais chatos. Você me pergunta, o que é um pai chato? Pode ser uma mãe chata também, mas, quando é pai, é pior ainda. Explico logo o porquê.

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Antes, um reparo: evidente que os pais devem se ocupar da educação dos filhos. Ponto. Mas tem limite. Quer ver?

Há anos, quando meus filhos estavam em idade escolar, fomos, minha mulher e eu, a algumas reuniões. Poucas, porque sempre achamos que pais deveriam ser educados e não frequentar muito essas reuniões porque os professores, no fim do dia, já estão cansados de correr atrás de nossos pestinhas. Ah! Esqueci: hoje não se pode mais falar assim. Nossos “hiperativos”.

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Meus filhos estudaram numa dessas típicas escolas da zona oeste paulistana que custam R$ 3 mil por mês, ainda que professores preguem voto no PSol e levem os meninos para acampamentos do tipo MST.

Lembro-me de uma reunião em especial em que uma mãe, sentada atrás de mim, enchia o saco da professora de História, conhecida por ser amada pelos alunos, porque ela achava que o programa de História deveria contemplar mitos (o assunto era história antiga) nos quais as mulheres fossem guerreiras “empoderadas” (a palavra já dá vontade de vomitar...). E, também, que deveriam dar menos espaço para gregos, romanos e hebreus, e mais para outros povos.

A professora, coitada, educadamente, depois de uma dia inteiro de trabalho, tentava explicar à mãe chata que, em se tratando de história antiga ocidental, não se podia negar a importância dos gregos, romanos e hebreus. Os demais povos seriam contemplados (lembre-se: estamos falando de Antiguidade!), mas esses três eram essenciais (na Antiguidade!) para a matriz ocidental.

Outro tipo chato é aquele que acha que a escola deve ensinar os alunos a mexer em computadores e afins. Normalmente, o cara é engenheiro ou algo assim, mas acha que, porque tem um carro coreano grande e branco, pode ensinar pai-nosso ao vigário. Só gente mal informada acha que criança de classe média precisa de escola pra aprender a mexer em computadores e afins.

Mais um tipo é aquele participativo em todas as atividades da escola e que leva a sério quando, educadamente, a instituição convida os pais a serem mais “presentes no dia a dia da escola”. Esse é aquele tipo que se senta na primeira fila nas reuniões e fala o tempo todo. Quando acaba a reunião, lá pelas 22 horas, ele quer conversar com a professora enquanto ela pega a bolsa e se dirige para o seu carro.

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Tipo muito interessado em saber como seu filho vai na escola, mas que na realidade quer falar de algo que ouviu falar numa dessas reuniões com gurus que falam sobre motivação em empresas, e acha que a professora deveria ler esse tal guru que ganha milhões ensinando bobagens sobre liderança. O mundo corporativo gasta milhões com gente fajuta.

Ou, quem sabe, pior ainda, aquele tipo que, em escolas de crianças muito pequenas, quer demonstrar sua condição de pai contemporâneo, disputando com as mães quem sabe mais sobre alimentação infantil.

Tem mais um hilário (entre tantos outros): os pentelhos que querem dizer para a coordenação que a escola deveria colocar disciplinas novas, como “biking”. Eita mundinho chato, esse.

Estou devendo a você uma explicação de por que, normalmente, os pais assim acabam sendo mais chatos do que as mães.

Uma das novas modas de comportamento é a mania de homens quererem o tempo todo provar que entendem melhor de bebês do que as mães. Essas, coitadas, acabam cedendo à moda porque, além de quererem ou precisarem trabalhar, não podem negar ao marido a ilusão de ser um “pai contemporâneo”. Outras, infelizmente, creem de verdade que o fato de os homens não poderem amamentar é uma injustiça social ou de gênero (o gender gap).

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Óbvio que existem pais que sabem lidar com filhos pequenos. E mães que não são lá tão obcecadas pelos filhos. Pena. Mas, na maioria esmagadora dos casos, devemos deixar que as mulheres cuidem dessa área, porque elas sabem há milênios o que significa carregar uma criança nesse mundo.

Luiz Felipe Pondé, escritor, filósofo e ensaísta, é doutor em Filosofia pela USP e professor do Departamento de Teologia da PUC-SP e da Faculdade de Comunicação da FAAP.