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O fenômeno da "desparanização" das empresas locais não é algo recente. Nas últimas décadas temos assistido a seguidos processos de extinção ou venda para compradores estrangeiros de tradicionais empresas paranaenses, como Hermes Macedo, Prosdócimo, Bamerindus e, no caso mais recente, a Leão Júnior.

São vários os fatores que levam ao fim do controle de companhias como essas de mãos paranaenses. É uma tendência "natural" da globalização, com a fortíssima competição internacional, as investidas irrecusáveis de investidores externos e a abertura a mercados mais competitivos. Entretanto, esse é um fenômeno que poderia ser minimizado com a adoção de práticas de governança corporativa pelas empresas locais.

Governança corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas e cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa buscam aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade. Em outras palavras, buscam fortalecer as empresas para enfrentar o mundo globalizado.

Da mesma forma que encontramos exemplos de empresas paranaenses que não tiveram oportunidade de adotar as melhores práticas de governança corporativa, vemos outras que estão cada vez mais firmando seu posicionamento ao enfrentar o desafio. Para as empresas de capital fechado ou familiares, a governança corporativa colabora decisivamente para resolver questões sucessórias que tanto afligem os empreendedores, preparando-as de forma estruturada para enfrentar agudas decisões futuras como expansões, parcerias ou mesmo abertura de capital. Hoje, para uma empresa habilitar-se a abrir seu capital na Bovespa, por exemplo, são requeridos índices de governança corporativa claros, que crescem de intensidade quando o patamar aproxima-se dos critérios do novo mercado.

Um exemplo de empresa paranaense que está se adaptando a essas regras é a Bematech. Nascida de uma incubadora, tornou-se referência mundial em seu mercado de atuação. Para apresentar maiores índices de lucratividade e brilhar no radar dos investidores, tendo acesso a capital, custos menores e sensibilizando clientes pela perspectiva de perenidade nos seus negócios, recentemente adotou práticas de governança corporativa para abrir seu capital no mercado de ações.

Atributos da empresa, como transparência, eqüidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa formam os pilares das melhores práticas, projetando para o mundo exterior o reflexo de suas melhores intenções de crescimento sustentado e respeito por sócios, investidores, clientes, fornecedores, colaboradores e mercado. Formam também as bases da perenidade, ou seja, da existência e continuidade da empresa para as próximas gerações.

Como transparência, entendemos que mais do que "a obrigação de informar", a administração de uma empresa deve cultivar o " desejo de informar", o que costuma resultar num clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações da empresa com terceiros. A eqüidade caracteriza-se pelo tratamento justo e igualitário de todos os grupos minoritários, sejam eles ligados diretamente ao capital ou às demais "partes interessadas", como colaboradores, clientes, fornecedores e mesmo credores. Como prestação de contas, exige-se que os agentes da governança prestem contas de sua atuação a quem os elegeu e respondam integralmente por todos os atos que praticarem no exercício dos mandatos. Finalmente, a responsabilidade corporativa tem evoluído muito nos últimos anos, fazendo com que as empresas não encarem esse assunto apenas como "assumir um papel social", e sim como uma série de ações que levem à sustentabilidade a longo prazo.

Marcio Kaiser é coordenador-geral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – Capítulo Paraná.

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