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Estamos vivendo o clima da Copa do Mundo neste mês de junho de 2014. Com este grande evento mundial, surge, para nós brasileiros, uma grande oportunidade de refletir sobre o significado do patriotismo. A prática de lealdade, amor devotado, identificação, apoio ou defesa de um determinado país é o que chamamos de patriotismo. Patriotismo, do grego patriótes, é o sentimento de orgulho, amor e devoção à pátria, aos seus símbolos (bandeira, hino, brasão, riquezas naturais e patrimônio material e imaterial).

O amor à pátria era considerado, no decorrer da história, um simples apego às características físicas do solo. Esta noção mudou no século 18, quando os ideais de democracia, as teorias do socialismo e do comunismo emergiram do pensamento político. A noção de patriotismo passou a assimilar noções de costumes e tradições, o orgulho da própria história e a devoção ao seu bem-estar. Posições pessoais, opiniões políticas, condição na sociedade, crenças e experiências vividas afetam a ideia do que significa ser patriota.

O nacionalismo é considerado uma ideologia ou um idealismo que leva as pessoas a ser patriotas. Ser um patriota implica fazer algo de bom pelo seu país ou nação. O espírito de solidariedade que observamos nos brasileiros que possuem interesses comuns, constituindo um Estado, e que, ao viver sob mesmas leis, as respeitam com ânimo maior que o ânimo que empregam na defesa de interesses, ambições e avarezas particulares é o que podemos chamar de patriotismo. O povo é patriota e muitos dos nossos representantes não são patriotas, são agiotas.

Uma das maneiras de mostrar como os brasileiros são devotos ao seu lugar de origem, além da cultura e guerra, é o desporto. Os brasileiros têm orgulho de sua pátria quando ela está representada por atletas do seu país em competição.

Acredito na importância do patriotismo constitucional como um compromisso comum dos cidadãos brasileiros em torno da promoção de uma sociedade democrática e plural. No Brasil, a transição para a democracia foi, de certo modo, incompleta. Estamos em um período democrático. Lamentavelmente ainda persistem arranjos institucionais pouco democráticos e resíduos de uma cultura política autoritária.

As nações e o nacionalismo são produtos da modernidade. O conceito pré-político de nação foi empregado para menosprezar as demais nações, hostilizar os estrangeiros e discriminar e excluir minorias étnicas e culturais. Contra esse processo de homogeneização e de exclusão da diferença, é importante refletirmos a concepção de patriotismo constitucional. A construção da identidade com base na nacionalidade vem sendo considerada um processo histórico em vias de extinção.

Nesta época de Copa do Mundo, percebe-se que a cidadania perdeu o sentido de pertencimento a uma comunidade cultural, e a herança republicana só pode ser salva na medida em que os cidadãos participam ativamente do processo político e se identificam com um projeto constitucional compartilhado. As leis deveriam ser formuladas para facilitar a coexistência das diferenças dentro da comunidade política, tornando as negociações possíveis e promovendo a autonomia individual.

Será que nossa constituição foi elaborada através de procedimentos de deliberação discursiva? Será que os brasileiros se reconhecem a si próprios como autores e destinatários do projeto constitucional? Estes questionamentos são importantes para entender até que ponto as manifestações de patriotismo são realmente de patriotas ou são manifestações de um pseudopatriotismo. No Brasil as duas realidades se confundem de tal forma que fica difícil fazer uma distinção com clareza.

O Estado patrimonialista ainda é uma herança histórica no Brasil. Em oposição a essa herança, tenta-se inspirar um patriotismo constitucional através de uma nova forma de identidade pluralista e integradora, visando construir uma cultura política democrática. Pode-se questionar se de fato o patriotismo constitucional, como forma de identidade política, seria capaz de sustentar a coesão social.

Nesta época em que os brasileiros estão vibrando pela seleção de futebol, seria oportuno reforçar o desenvolvimento de um patriotismo fundado politicamente na Constituição, capaz de transcender os limites de cultura, língua e etnia, e de se opor ao nacionalismo que submete as minorias a repressões.

O povo brasileiro precisa ser respeitado pelos nossos representantes políticos. Estamos vivendo uma verdadeira crise de representatividade e de ética nas coisas públicas. Acredito que com o patriotismo constitucional e as políticas públicas deliberativas o Brasil tomará um novo rumo neste novo século rumo a uma verdadeira participação popular.

Osmar Ponchirolli, filósofo, mestre e doutor, escritor de vários livros e palestrante, é professor da FAE Centro Universitário.

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