Há duas semanas, fui surpreendido, quando me preparava para embarcar para o exterior, por Ernani Buchmann e Adelia Woellner, que me transmitiam a notícia da morte inesperada do professor e historiador Carlos Roberto Antunes dos Santos, um verdadeiro scholar, com impecável qualificação acadêmica e ex-reitor da Universidade Federal do Paraná. Entre todos os seus traços de personalidade, um se destacava: o respeito pelas diferenças de opinião, a civilidade com que tratava seus eventuais adversários políticos na vida universitária e a elegância sóbria com que falava, escrevia e agia.

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Há dias, Léo de Almeida Neves, intelectual, político e colega de Antunes na Academia Paranaense de Letras, publicou aqui na Gazeta um brilhante artigo sobre a inadiabilidade da reforma política no Brasil. Nele, Léo – alguém que pagou caro demais por suas convicções políticas – defende suas ideias com firmeza e não deixa dúvidas no espírito do leitor a respeito do que pensa e de como encara o problema político brasileiro. No entanto, ao fazer uma remissão melancólica da deterioração da qualidade de nossa vida pública, não deixou de mencionar inclusive seus adversários mais aguerridos, aos quais deve muitos dissabores e decepções.

Que há de comum entre esses dois exemplos de homens públicos? A capacidade de ter convicções sólidas, graníticas, inarredáveis, mas de defendê-las com serenidade, generosidade com as opiniões divergentes, compostura no falar e no escrever. E isso é algo que está ficando cada vez mais escasso no cenário brasileiro.

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Outro dia, a presidente Dilma Rousseff foi estrepitosamente vaiada na abertura da Copa das Confederações; nada de anormal, pois no Brasil, em estádio, vaia-se até minuto de silêncio. Porém, logo depois, recebeu uma vaia ensurdecedora – desta vez, de milhares de prefeitos reunidos em Brasília. Prefeitos vaiando presidentes já carregam um ar de pura e simples falta de compostura e de educação cívica praticados por representantes políticos, com responsabilidades institucionais.

Agora, vem Ciro Gomes, que tem pretensões de ser um líder nacional, e declara em uma entrevista que "Dilma pilota uma aliança assentada na putaria". Vamos e venhamos, isso é linguagem de membros da própria, e não deveria frequentar a retórica de um ex-ministro, candidato a presidente da República e que se considera um estadista de porte nacional. Pior ainda é verificar o surrealismo da situação: Ciro Gomes pertence ao PSB, partido que faz parte da base aliada, da aliança política que sustenta o governo de Dilma, ou seja... Diga-se de passagem que seu dileto irmão, Cid Gomes, governador do Ceará, que se notabilizou por levar a sogra e a mulher para a Europa de carona em um avião fretado com dinheiro público e por outras decisões por assim dizer heterodoxas, também demonstra por esses atos menos proximidade com conventos e casas de oração e mais proximidade espiritual com o que os antigos chamariam de casas de tolerância.

Que me perdoem a memória de Carlos Roberto Antunes dos Santos e a superioridade moral de Léo de Almeida Neves por colocá-los neste mesmo texto junto aos dois Gomes, mas o contraste entre a forma como os dois primeiros e os dois últimos entendem a política é grande demais para ser desconhecido ou deixado de lado. Como diria Luiz Geraldo Mazza, os primeiros jogam peteca, os segundos empunham tacapes.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.