| Foto: Felipe Lima

No último dia 10, o IBGE divulgou o IPCA de abril, que, além de mais uma vez ter ficado abaixo de boa parte das expectativas do mercado, no acumulado em 12 meses atingiu o menor nível em quase dez anos, com 4,08%. É comum elencar a recessão atual como a causa desta descompressão forte dos preços ao consumidor; entretanto, tal avaliação é incompleta.

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É bem verdade que a queda da atividade tem ajudado na forte desaceleração dos preços, sobretudo do setor de serviços, mais sensíveis ao ciclo econômico e que vinham crescendo a taxas de 8% desde 2011. Eles já se encontram abaixo dos 6%. Por outro lado, devemos destacar outros fatores que, somados, são tão (ou mais) importantes que a recessão, a saber: o fim do choque dos preços administrados; a favorável inflação de alimentos advinda de safras recordes; a valorização cambial; o retorno da credibilidade do Banco Central; e a dinâmica atual de reformas.

A retomada da credibilidade do Banco Central e do período reformista é fundamental para a queda do IPCA

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Os preços administrados, antes represados entre 2012 e 2014, viram sua taxa desacelerar de 18,06% ao fim de 2015 para 4,25% nesta última leitura, o que implica numa queda de contribuição para o IPCA: de mais de 4 pontos porcentuais para apenas 1 ponto porcentual, sendo que eles não sofrem influência do nível de atividade. O fim do choque de tal classe tem ajudado muito para um menor nível inercial da inflação nos últimos meses.

Outra classe de preços importante que tem mostrado forte desaceleração é a dos “alimentos no domicilio”, que representam cerca de 17% da cesta de consumo do IPCA. O acumulado em 12 meses de tais preços desacelerou de 16,8% em meados de 2016 para apenas 2,5% em abril passado, reflexo de uma safra favorável e sem impacto necessário da atividade econômica. Sua contribuição ao IPCA recuou de cerca de 2,9 pontos porcentuais para apenas 0,4 ponto porcentual.

Juntamente ao período favorável da inflação de alimentos, o recente aumento de preços das commodities, que dominam a pauta de exportação brasileira, e a queda do risco-país (tanto por fatores domésticos como externos) geraram uma apreciação da moeda brasileira. Vale lembrar que a taxa de câmbio estava em R$ 4 por dólar em janeiro do ano passado e recuou para R$ 3,14 na média dos quatro primeiros meses deste ano. Embora o chamado pass-through (repasse) da taxa de câmbio para o IPCA seja menor em tempos de baixo nível de atividade, a valorização do real ajudou no menor crescimento dos preços brasileiros via menor preço das importações.

Leia também:A inflação na meta (editorial de 16 de maio de 2017)

Leia também:Inflação em queda e desemprego em alta: um não causa o outro (artigo de Leonardo Palhuca, publicado em 11 de maio de 2016)

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Por último, mas certamente o mais importante, temos a retomada da credibilidade do Banco Central e do período reformista. Desde que Ilan Goldfajn assumiu a cadeira máxima da instituição, o IPCA desacelerou de 8,84% para 4,08%, reflexo de um compromisso maior com a meta, que é de 4,5% – e não 6,5%, como na gestão anterior. O aumento da credibilidade reduz a pressão necessária que a autoridade monetária tem de exercer para trazer a inflação para sua meta, gerando muito mais impacto nas expectativas que na atividade. Por sua vez, as reformas que visam a melhor dinâmica da dívida pública impactam positivamente nas expectativas de inflação.

O nível de ociosidade da economia permitirá acomodar um crescimento sem gerar maiores pressões inflacionárias, abrindo caminho para uma queda sustentável dos juros de mercado que, juntamente com as reformas, derrubará a taxa natural de juro da economia brasileira. Essa queda, sim, é a que importa.

Arthur Lula Mota, economista pela Universidade Federal de São Paulo, é colaborador do site Terraço Econômico .