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A história oferece uma certeza: não tem passaporte para o futuro econômico e social o país que não for capaz de fazer parte do mundo da inovação. Para ingressar neste mundo, o país deve abrir pelo menos cinco portas.

A primeira é ter universidades e institutos de pesquisas, públicos e privados, com padrões internacionais, convivendo com o setor produtivo em um robusto Sistema Nacional do Conhecimento e da Inovação, interagindo com os mais qualificados centros científicos e tecnológicos do mundo.

A segunda envolve as empresas. Não entra no mundo da inovação o país cujos empresários se limitem a produzir apenas o que é inventado fora, porque têm aversão a investimentos em pesquisa e desenvolvimento ou porque o setor público despreza a inovação ao não vincular seus financiamentos à criatividade da empresa. Para entrar no mundo da inovação é necessário que os incentivos fiscais e financeiros exijam contrapartida criativa das empresas beneficiadas.

A terceira porta é a estabilidade institucional. Não é possível o país ser inovador se professores e pesquisadores são obrigados a parar suas atividades por falta de recursos ou salários, ou se leis instáveis mudam constantemente as regras de funcionamento dos centros de pesquisa. Da mesma forma, não há como um país ser inovador se seus empresários não souberem que leis nortearão o funcionamento da economia, da política fiscal, o grau de abertura comercial e de intervenção estatal.

Uma quarta e decisiva porta para o mundo da inovação é a educação básica de qualidade máxima e equivalente para todas as crianças e jovens. Cada criança que não aprende idiomas, regras básicas das ciências e da matemática é um capital inovador interrompido.

Mas a mais necessária porta para o mundo da inovação é a vontade nacional de dar um salto para ingressar no seleto conjunto de países inovadores. O Brasil não parece ter a vontade necessária para fazer hoje os sacrifícios necessários para entrar em um mundo inovador, daqui a 20 ou 30 anos. O país prefere dar isenções fiscais aos automóveis criados no exterior e fabricados aqui do que investir na criação de nossos carros e sistemas de transporte público. Prefere incentivar o aumento do consumo de energia elétrica por meio de isenções fiscais do que investir no desenvolvimento de fontes alternativas de energia. Prefere ser um celeiro de alimentos do que uma fonte de novas tecnologias. Nossa mentalidade imediatista e obscurantista não olha o longo prazo, nem dá valor aos produtos da inteligência, mantendo fechadas as portas que nos separam do mundo da inovação.

Para ter uma educação de qualidade e capaz de inovar, o país precisa de mais tempo na escola para toda criança de 4 a 8 anos de idade; menos tempo em frente da televisão; uso mais intenso do computador, tanto em aulas presenciais quanto a distância; salários capazes de atrair ao magistério os jovens com mais talento; prédios mais confortáveis, bonitos, bem equipados com laboratórios de informática, televisão, bibliotecas, quadras esportivas, espaços culturais; e mais tempo de leitura e de atividades culturais.

Não há estadistas nem partidos que se propõem a conduzir o país nessa direção, com visão de futuro, carisma para mobilizar a opinião pública, competência política para conseguir os votos e os apoios necessários para abrir as portas que nos amarram no lado de cá, enquanto outros países menores e mais pobres estão avançando em direção ao futuro por meio da inovação.

Cristovam Buarque, professor da UnB, é senador pelo PDT-DF.

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