Bloco carnavalesco no Rio de Janeiro, antes da pandemia.| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Ouça este conteúdo

O anúncio da suspensão do carnaval de blocos de rua no Rio de Janeiro vale para aquela capital, mas deve influenciar a não realização da festa em todos os quadrantes do país. Se a localidade que abriga o maior evento do gênero decide cancelá-lo em razão do possível recrudescimento da pandemia, não haverá argumentação forte o suficiente para a folia se realizar em outras comunidades, onde sua importância é menor e não há a relevância econômica e social similar à carioca. Por ora está confirmado o desfile das escolas no Sambódromo da Avenida Marquês de Sapucaí, mas tudo vai depender dos acontecimentos na área da saúde.

CARREGANDO :)

Além da variante ômicron, vinda da África do Sul, que invade e preocupa as regiões mais desenvolvidas do planeta, registramos em solo brasileiro o aumento da procura por atendimento médico e hospitalar para tratamento de problemas respiratórios. O quadro se torna ainda mais preocupante com a recém identificada presença da “flurona” – infecção simultânea de um mesmo paciente pelo influenza (o vírus da gripe) e pelo coronavírus –, que os boletins médicos revelam já ter acometido 110 pacientes no estado de São Paulo e ocorrer também no Ceará e no Rio de Janeiro.

São Paulo revela ainda 86 casos de ômicron no estado e dificuldades de atendimento aos pacientes, que nos últimos dias tiveram de esperar até seis horas pelo socorro médico. O levantamento da terça-feira, dia 4, executado pelo consórcio dos veículos de comunicação, aponta a ocorrência, no país, de 178 mortes por Covid nas 24 horas anteriores à sua divulgação. Embora haja o tumulto decorrente do ataque de hackers ao sistema de informação do Ministério da Saúde, o número de vítimas tem aumentado. Nada que se compare ao dia 8 de abril passado, o pior da pandemia em mortes, quando 4.249 brasileiros perderam a vida; mas é um salto significativo em relação às últimas semanas, quando o número de óbitos circulou na casa dos dois dígitos.

Publicidade

Fora as implicações decorrentes da ômicron e da flurona, a estrutura de saúde aguarda, apreensiva, as consequências das aglomerações ocorridas no Natal e réveillon. As festas públicas – especialmente as da virada de ano – estiveram proibidas em boa parte das localidades, mas muitas pessoas reuniram-se em eventos privados de diferentes formatos. As praias estiveram lotadas. Dependendo do grau de infestação, nas próximas horas e dias começarão a ser diagnosticados os novos atingidos pela pandemia ora agravada pela gripe. O grande desejo é que a prática confirme a baixa gravidade e letalidade da ômicron, declarada nos últimos dias pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A gama de variáveis e condicionantes desse momento – quando todos acreditamos estar a pandemia rumo ao controle e extinção – não permite baixar a guarda. Mesmo com 160 milhões de vacinados potencialmente menos sujeitos a adoecer, precisamos manter o uso da máscara (que em São Paulo e outros estados deverá ser obrigatório pelo menos até o próximo dia 31), manter o distanciamento corporal, evitar aglomerações e lavar as mãos ou desinfetá-las com álcool gel como forma de dificultar a transmissão dos vírus, tanto o Sars-CoV-2 quanto o influenza. Será um grande desastre se, por falta de cuidados da população ou por problemas estruturais, voltarmos a ter a necessidade de quarentenas, lockdowns e outras medidas restritivas que tanto nos fizeram sofrer nos últimos dois anos. Acautelem-se!

Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar de São Paulo e dirigente da Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo (Aspomil).