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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A difícil realidade política e social do Brasil evoca uma discussão a respeito da relevância da ética. Mais do que nunca é preciso falar de ética. Mas a grande questão é: o que é ética?

É em solo grego antigo que se podem encontrar os primeiros relatos sistematizados a respeito da discussão sobre o agir moral e os valores que servem de fundamento para esse mesmo agir. Entre as mais variadas produções intelectuais ocorridas naquele lugar, a ética desponta como uma formidável singularidade projetada pelo engenho do espírito helênico.

Entre os gregos, usualmente o termo ética (ethos) pode ser compreendido de duas formas correlatas: em sua primeira acepção, ethos faz referência a hábitos e práticas culturalmente estabelecidos, aceitos e executados pelos membros de uma mesma comunidade. Trata-se, portanto, de um conjunto de regras e valores bem definidos, que foram estatuídos progressivamente e validados coletivamente ao longo do tempo. Essas regras servem de parâmetro para o agir humano, sendo considerados de grande valor pelos membros da comunidade. Em um segundo momento, o termo ethos está relacionado ao juízo do sujeito frente aos valores e as regras culturais, isto é, trata-se de uma atividade reflexiva a respeito da melhor ação a ser adotada em um determinado contexto específico. Desse modo, essa segunda concepção de ethos está intimamente relacionada ao caráter de cada um.

A ética desfruta de uma significativa (e necessária) primazia em relação à moral

Atualmente, em decorrência da vigorosa influência romana no mundo ocidental, convencionamos designar dois conceitos distintos para referenciar esses dois significados da palavra ethos: utilizamos a palavra moral (do latim mos, mores, dos quais derivam o termo moralis) para tratar dos valores, hábitos e costumes próprios de um povo; e ética (ethos em grego) para a reflexão a respeito dos fundamentos e da validade desses valores morais. Sendo assim, fica evidente que a ética pode ser compreendida como um exercício de avaliação racional que versa a respeito dos valores morais que adotamos enquanto membros de uma determinada comunidade.

É em virtude dessa capacidade intelectual, característica do ser humano, que a ética pode atuar legitimando ou questionando a pretensa validade dos valores morais correntes no cotidiano do corpo social. É em decorrência dessa mesma capacidade que a ética atua como um instrumental, uma faculdade que possibilita a reformulação de alguns valores e, em casos específicos, a superação de valores morais que já não encontram sentido nem respaldo na vida coletiva. Diante do exposto, deduz-se que a ética desfruta de uma significativa (e necessária) primazia em relação à moral, não se confundindo com esta última.

Nesse espírito, fica patente a dupla pertinência da ética para as sociedades hodiernas: primeiramente, a ética é indispensável para que o grupo possa revisar seus costumes e valores, adotando atitudes que possibilitem uma convivência mais harmônica entre os concidadãos; depois, tendo em conta que boa parte dos conflitos entre os povos é decorrente do antagonismo cultural e do choque entre os diversos (e diferentes) valores morais, a ética oportuniza uma maior interação entre culturas divergentes, possibilitando o diálogo e promovendo a superação das diferenças.

Edimar Brígido, mestre e doutorando em Filosofia, é professor de Ética na Unicuritiba.
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