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A prescrição de medicamentos é apenas uma das partes, que não pode ser separada, da consulta médica. Antes de indicar um medicamento ao paciente, o profissional médico segue todo um processo, que é de suma importância para o correto diagnóstico e tratamento preciso, preservando a saúde da pessoa.

Antes de tudo, é necessária uma anamnese detalhada, uma avaliação de todos os fatores envolvidos, como antecedentes da pessoa e da patologia em curso, fatores agravantes e precipitantes, outros sintomas associados e medicamentos já em uso. Seguidas essas etapas iniciais, são necessários exames físicos completos e, se for o caso, exames complementares; a partir desse momento realiza-se a formulação de hipóteses diagnósticas baseadas em todo esse levantamento prévio e também os possíveis diagnósticos diferenciais, para, só então, fazer o planejamento terapêutico. Desse planejamento é que faz parte a prescrição de medicamentos. Porém os remédios nem sempre são necessários. Nesta fase, é importante avaliar os riscos e conse­­quências da terapia e prognóstico da doença.

Considerando toda essa sequência, que deve ser respeitada, para uma correta orientação terapêutica e prescrição de medicamentos, afirmamos que o único profissional habilitado para tal é o médico. O ato de fazer diagnóstico e o de indicar a terapia são exclusivos do profissional de Medicina.

As principais preocupações são as seguintes: o que seria um transtorno menor? Se ocorrer alguma complicação mais séria, quem responde? Quem vai resolvê-la? O farmacêutico? Será que este profissional tem condições para arcar com tal responsabilidade? Não parece provável.

Por exemplo, pacientes com sintomas semelhantes aos de um simples resfriado podem, com a evolução, desenvolver uma meningite, que, se não diagnosticada em tempo e com tratamento retardado, pode levar à morte. Outra situação: o resfriado e a gripe podem ter sintomas muito parecidos, mas a abordagem terapêutica nessas duas situações pode ser muito diferente. Outro exemplo pode ser de uma infecção de garganta, dependendo dos sintomas e, principalmente, faixa etária, pode ter etiologias diferentes e obviamente tratamentos diversos. Isso tudo o farmacêutico nem tem condições de saber se considerada a sua formação. Outro ponto importante é a definição de o que seriam antigripais.

A grande maioria dos medicamentos classificados nessa categoria não tem comprovação científica de eficácia e costuma trazer grandes riscos de efeitos colaterais mais sérios, que, se ocorrerem, precisarão ser prontamente identificados e tratados. Quem fará isso?

Os sintomas brandos iniciais podem esconder uma variedade de doenças graves, que podem ter seu diagnóstico e tratamentos postergados se uma medicação sintomática for utilizada inadvertidamente. O uso de analgésicos em casos de dores seria um exemplo. Existe uma série de doenças, algumas graves, que pode se manifestar inicialmente somente com uma dor inespecífica.

Essa medida pode trazer grandes riscos à população. A tendência vai ser de se "medicalizar" o atendimento à saúde. Para cada sin­­toma prescreve-se um medicamento. Ou alguém tem dúvidas de que o profissional que vive de vender medicamentos irá in­­dicá-los indiscriminadamente, sem avaliar as terapias não medicamentosas, tão ou mais importantes na resolução das doenças? O que está em risco não é a profissão médica, muito superior ao uso de medicamentos, mas sim a saúde da população.

Todas as profissões são importantes, mas cada qual deve atuar na sua área, respondendo às suas responsabilidades.

Gilberto Pascolat, médico pediatra, é chefe do pronto-atendimento Pediátrico do Hospital Evangélico e secretário-geral da Associação Médica do Paraná (AMP)

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