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Proatividade ética é a capacidade de iniciativa para empreender projetos bons, dignos e honrados. Caracteriza a postura de quem sabe empregar os meios com denodo para chegar a ser um bom profissional. Contrapõe-se à passividade, ao relativismo sobre os temas importantes da vida humana. Está no pólo oposto ao querer equilibrar-se, tal como relatava aquele político no filme City Hall, interpretado por Al Pacino, que justificava suas transgressões como decorrência da menschkeit, da condição humana! Dizia que entre a cor preta e a branca existe uma gradação de tons cinza, o comportamento habituava-se à região cinzenta entre o bem e o mal, e aos poucos perdiam-se os limites. De repente, como lhe ocorreu, ultrapassou definitivamente o farol vermelho. Já não havia desculpas para a tolerância ou flexibilidade de consciência. Chegou-se ao inominável, ao inconfessável!

Sabe-se que a virtude encontra-se no meio do caminho que vai da ausência até o seu excesso. Em terras de Santa Cruz, confunde-se o meio termo com a permanência numa posição cômoda. Na "Ética a Nicômaco", Aristóteles postula o justo meio como um ponto álgido, ponto onde se encontra a excelência moral, a areté grega ou a virtude. O meio termo não corresponde a um vale onde se situa o charco da mediocridade!

A proatividade e resistência ética são os dois campos de ação que abrangem a virtude clássica da fortaleza. Um refere-se aos empreendimentos corajosos, baseados em valores éticos, e o outro às ações que capacitam à manutenção do esforço continuado na busca do bem, assimilando com firmeza os golpes da vida, dos negócios, das pessoas que fazem o mal, etc. Aplica-se perfeitamente a imagem que Jorge Lacerda (ex-governador de SC) emprega em Democracia e Nação (1960): "O grande heroísmo do homem é justamente manter-se de pé no fragor das batalhas em que se vê lançado, como aqueles carvalhos majestosos em meio à fúria das tempestades que se abatem sobre as florestas".

Por onde começar? No próprio ambiente familiar. As dificuldades que os pais estão passando para educar os filhos exigem um trabalho cuidadoso para desenvolver a capacidade de auto-superação e espírito de sacrifício. A nossa sociedade não ajuda ou ajuda pouco. Estamos inseridos num ambiente consumista que prioriza a satisfação do prazer, por vezes a qualquer preço. Sem limites, as pessoas, especialmente os adolescentes e jovens, são mais influenciados, pois lhes falta adquirir capacidade crítica e autodomínio. Educadores, pais e mães de família estão conscientes de que a satisfação hedonista sem freios leva ao mal que permeia a sociedade contemporânea. As pessoas desenvolvem-se com a vontade debilitada. Trocam-se os ideais de superação pelos de não-frustração dos desejos. Este comportamento complacente prejudica a educação da proatividade e resistência de caráter.

A família e a escola têm um papel decisivo nesse processo educativo. Necessitam pôr-se de acordo sobre que tipo de educação querem dar para seus filhos e alunos. Não é possível ficar sem um telos, uma finalidade educativa, especialmente no campo moral. Tem se mostrado mais eficaz a educação naquelas escolas em que pais e educadores compartilham um projeto educativo que, sobretudo, vise a educar para a virtudes morais. Podemos compartilhar a visão de futuro de Lacerda: "Não havereis de saber jamais de quem se arrependesse da prática da virtude, de que os bons se lamentassem de tê-lo sido, de que a honra fosse causa de escândalo ou de que a dignidade envergonhasse os que dela se não afastam"!

Paulo Sertek é professor universitário e autor de "Responsabilidade Social e Competência Interpessoal" (Ibpex, 2006). paulo-sertek@uol.com.br

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