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Costuma-se dizer que nos últimos tempos o PT perdeu o monopólio das ruas. É uma análise que ainda não atinge o núcleo da verdade: talvez o PT nunca tenha tido o povo nas ruas. Apenas tinha uma militância barulhenta e uniformizada que se aproveitava de causas populares que não dependiam do PT.

Basta-se pensar nas Diretas Já e, ainda mais premente, no Fora Collor. Apesar de ter sido organizado pelo PT, o mesmo povo votou no tucano Fernando Henrique em duas vitórias acachapantes seguidas.

Nos protestos deste domingo, a tônica foi o número. Agentes políticos importantes, que variam de deputados a investidores, de empresas a órgãos técnicos do Estado, só têm pleno potencial de ação conforme o apoio da população. Apesar de o Datafolha já ter auferido que 63% dos eleitores apoia o impeachment, eles só conseguem agir a contento com um apoio claro e positivo do povo – como a tomada de ruas, tomando um domingo de tantas pessoas.

Com os números claramente apontando que esta foi uma mobilização maior do que as Diretas Já, agora estes agentes, especialistas em decodificar sinais do povo antes de tomarem ações (ou mesmo posições), podem levar a cabo tudo o que planejam: de investimentos apostando em uma outra política focada em desenvolvimento e liberdade econômica para o país, até a prisão de políticos com altíssima aprovação popular até há pouco tempo.

Os números importam, pois até mesmo todo o discurso do PT até hoje está focado em uma ameaça: a de acirramento de ânimos e violência física contra inocentes nas ruas. Nunca dizem isto com todas as letras, mas seja Gilberto Carvalho afiançando que não crê na prisão de Lula porque “não brincariam com fogo”, ou o líder do MST Guilherme Boulos invertendo o discurso ao dizer que “querem incendiar o país”, não há nada que se possa extrair destas frases que não a promessa de guerra civil e de agredir violentamente qualquer um que não defenda o PT nas ruas.

É exatamente esta a razão de o juiz Sérgio Moro ter declarado que precisa do apoio popular nas ruas. Além de causas urgentes, abordadas com entusiasmo pelos protestos, como a PEC 412, que garante a autonomia da Polícia Federal, há uma balança cujos pratos precisam ser sopesados: em caso de prisão de Lula, o povo irá apoiar aquele que já foi o líder com maior aprovação no mundo ou irá defender a lei? Mesmo sendo uma matéria puramente técnica, no mundo real é preciso de mais do que a lei: urge uma garantia de que o povo prefere a justiça do que um partido. As demonstrações de apoio à Polícia Federal e a Sérgio Moro passaram o recado.

O PT ainda se estrepa por não entender o que se passa diante de seus olhos. Ainda crê que o protesto é um “golpe” dado por “tucanos”. Aécio Neves e Geraldo Alckmin mal conseguiram pisar na Avenida Paulista, de tão hostilizados. A própria cor da bandeira brasileira indica que o povo defende um país e suas instituições, não aceitando mais a tomada delas por um partido.

Mesmo com números imprecisos de órgãos como o Datafolha (que errou 63% das previsões em 2014), não apenas a Paulista, mas mais de 6 ruas paralelas estavam intransitáveis em defesa da lei, não aceitando mais muda-la com votos. O impeachment não é mais questão de se, mas de quando.

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