Para um país que se jacta de ser a sétima economia do mundo, que aspira a entrar nos círculos rarefeitos das grandes decisões mundiais e que impressiona pela grandeza de seu território, sua unidade linguística e pela ausência de ódios tribais ou étnicos, deveria causar vergonha e asco o caminho que vêm tomando nossa diplomacia e nossa política internacional. O país do Barão do Rio Branco, que moldou nossas fronteiras com sabedoria, esperteza e desassombro, deveria se envergonhar do nível de pusilanimidade e de servilismo a que o Brasil chegou no trato de sua soberania e de sua reputação.

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A presidente Dilma Rousseff – como sempre, com aquele tom professoral que utiliza para disfarçar a pobreza dos argumentos – está indignada com o ato de lesa-majestade que o diplomata brasileiro Eduardo Saboia teria infligido ao governo da Bolívia ao trazer para o Brasil, em carro diplomático, o senador oposicionista boliviano Roger Pinto Molina. Mas nossa primeira mandatária não viu nada de mais no fato de o governo Evo Morales se recusar durante um ano e meio a conceder salvo-conduto para que ele deixasse a embaixada brasileira, onde estava asilado, morando em uma salinha. Agora, os áulicos de sempre se agitam para condenar o ato do diplomata brasileiro, ameaçando-o de processo e acenando com a possibilidade de extraditar ou mesmo devolver o senador boliviano a Morales. Até o futuro procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já fala na possibilidade de o senador ser processado por corrupção no Brasil. Mau começo...

Mas, alto lá! O italiano Cesare Battisti não foi condenado (sim, condenado, não processado) por ter matado várias pessoas em seu país? Não entrou no Brasil ilegalmente, pelo que está sendo processado até agora? E que fez o ex-presidente Lula, preceptor e padrinho da nossa presidente? Passou a mão na caneta e autorizou sua permanência definitiva no Brasil, com seus áulicos (os mesmos de sempre, Tarso Genro à frente) colocando em dúvida a lisura da justiça italiana.

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Quando o avião de Evo Morales foi detido e revistado na Áustria, nosso governo capitaneou imediatas e veementes manifestações de repúdio. Mas ocultou cuidadosamente do distinto público o fato de que um avião da Força Aérea Brasileira, conduzindo um ministro de Estado, foi detido e cuidadosamente revistado em La Paz. O ministro, no caso Celso Amorim, não tugiu nem mugiu, aceitando a humilhação e fazendo de conta que nada havia acontecido.

O ex-presidente Lula classificou de "abomináveis" os protestos em Fortaleza contra a vinda de médicos cubanos. Mas esqueceu-se – ele que se diz tão amante do debate e da controvérsia – de condenar os atos de hostilidade praticados contra a dissidente do governo cubano Yoani Sánchez, em sua visita ao Brasil; ela foi inclusive impedida de fazer o lançamento de seu livro em São Paulo pelas ameaças de grupinhos de manifestantes, obedientes como macaquinhos amestrados agindo sob a direção do embaixador cubano e com a leniência do governo. Mas é claro: era uma inimiga dos amigos do peito dos governantes brasileiros, os indefectíveis irmãos Castro, paradigmas – para os basbaques – do progresso, da liberdade e da justiça.

Esses são apenas alguns episódios dessa derrapagem histórica para a irrelevância e para a falta de respeito internacional de nosso país a que estamos assistindo. Quando o panteão de heróis de nosso governo é composto por gente dessa qualidade, como o era por figuras como Hugo Chávez e Fernando Lugo, a irrelevância e o desrespeito estão a um passo.

Bem-vindo ao Malawi, Burkina Fasso, Coreia do Norte ou São Cristóvão e Névis, caro diplomata Eduardo Saboia. É para postos aprazíveis e importantes como esses que os que se dispõem a afrontar a realpolitik brasileira estão condenados. Que vergonha!

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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