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É na convivência de muitos anos, diária, com milhares de crianças e adolescentes, que todo professor vai aprendendo a lidar com as mudanças de comportamento de geração para geração. Depois da família, é a escola que reflete toda e qualquer transformação por que passa uma sociedade. Aí se incluem tanto as conquistas sociais, de maior acesso a padrões de vida satisfatórios e o conseqüente aprofundamento dos direitos individuais, como também os problemas sociais, como a violência, o aumento da criminalidade e a falta de respeito para com o coletivo. É dentro da sala de aula, ou no recreio, que surgem as manifestações de inconformismo de lado a lado e se chocam.

A escola como cenário deste ou daquele momento da sociedade onde atua foi, mais uma vez, palco destas manifestações com o que ocorreu há alguns dias, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Por decisão judicial, um aluno da 4.ª série, de 10 anos, obteve autorização para voltar à sala de aula no Colégio Destaque, da rede particular de ensino. Fora proibido de entrar na instituição por mau comportamento, agressão a colegas e desrespeito freqüente a professores e alunos.

Numa sociedade democrática, decisão judicial não se questiona, cumpre-se. E o Colégio Destaque reabriu as portas da sala de aula para o aluno.

Mas, numa sociedade democrática, é fundamental, também, a reflexão sobre nossos próprios atos. O episódio começa com um grande equívoco, nem sempre levado em conta pela comunidade escolar e, principalmente, por pais e responsáveis: em qualquer circunstância, em qualquer atitude que envolva escola, pais e aluno, deve-se ter em mente que o interesse maior, o lado mais importante, e que deve ser levado em conta antes de tudo, é o aluno. Neste contexto é imprescindível a maturidade e conhecimento de causa dos outros dois lados, ou seja, da escola e dos pais. Podemos ir mais além: nenhuma escola cumpre seu papel de educadora fora do princípio básico da disciplina, implícita na obediência a um regimento interno, baseado no respeito aos direitos do grupo. Esta é regra que permite a convivência entre indivíduos de todas as espécies. Quando o Colégio Destaque disse "não" ao aluno infrator, não estava tirando seu direito de freqüentar uma sala de aula e sim garantindo o direito de o grupo aprender e conviver. Quando a família do menino buscou na Justiça o direito de reintegrá-lo ao grupo, infringiu um código elementar na formação do futuro cidadão: o da disciplina e do limite como exercícios de fortalecimento pessoal. Quando a própria mãe chamou a imprensa para fotografar uma criança diante do portão da escola, ultrapassou todos os limites razoáveis do direito à privacidade do próprio menor por quem é responsável. Esta é uma cadeia de desencontros em que a criança deixou de ser o foco principal, passando por uma exposição pública desnecessária e cruel.

Se levarmos este exemplo particular para dentro do cenário em que vive a sociedade brasileira hoje, passamos a entender a razão pela qual tantos jovens de classe média, bem alimentados e formados em escolas de qualidade, cometem crimes inexplicáveis. O episódio do Colégio Destaque mostrou o que o mais recente seminário feito no Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR) comprovou através de pesquisas: a indisciplina na escola começa em casa. E pode-se acrescentar que a escola, se tiver apoio dos país, representa a última chance de impor limites à criança. Depois disso, a vida passa a ensinar. Quase sempre de forma dolorosa e irreparável.

Assis S. Pereira é diretor administrativo do Colégio Destaque

José Manoel de Macedo Caron Jr. é presidente do Sinepe/PR.

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