| Foto: Robson Vilalba

Quantos políticos, incluindo ditadores, dão nome às ruas brasileiras? Vários, certo? Agora pergunto: quantos empreendedores são homenageados em avenidas? Pois é. Outra pergunta: o leitor se lembra da última vez em que um empresário de sucesso era também um pai decente, um bom marido e um sujeito louvável nas novelas?

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Bertolt Brecht certa vez disse, por meio de um personagem: “pobre do país que precisa de heróis”. Não concordo. Acho que os heróis são fundamentais, até mesmo quando suas vidas são um pouco floreadas para fins ficcionais. Tornam-se, assim, os tais mitos fundadores de uma nação.

Pobre do país que tem os heróis errados, isso sim! Pobre do povo que tem em Macunaíma, personagem de Mario de Andrade, seu símbolo maior. Lula, por exemplo, é o típico “herói sem caráter”, cheio de apetites e sem nenhum freio moral, disposto a tudo para se dar bem. Virou herói para muitos.

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O conceito de estadista dado por Churchill vai direto ao ponto: alguém que se preocupa com as próximas gerações, ao contrário do populista, que só se preocupa com as próximas eleições. O estadista é alguém heroico por aceitar o sacrifício presente em prol de algo maior no futuro. Aguenta até a impopularidade do momento se estiver seguro de que faz aquilo que é certo, que deve ser feito para colocar o país nos trilhos. Quantos estadistas o Brasil já teve?

Para muitos brasileiros, ainda vale a máxima de Tom Jobim, de que o sucesso individual é pecado

Um herói terá, portanto, aquilo que os iluministas britânicos chamavam de “virtudes sociais”, como a coragem, o senso de dever, a honra. Nas guerras, são aqueles que salvam vidas, que se colocam na frente da batalha, que lideram, que inspiram.

George Washington é um claro exemplo. Soube colocar os interesses da nação acima dos próprios, quando recusou pedidos para que se perpetuasse no poder. Apesar da alta popularidade, sabia que não era o melhor para o futuro dos americanos, que tinham acabado de lutar uma guerra revolucionária contra os abusos de poder do monarca. Soube transferir o poder para construir instituições sólidas, sem personalismos.

Se os “pais fundadores” são normalmente vistos como heróis pelos americanos, com toda razão, o que dizer dos empreendedores de sucesso? São idolatrados! Livros e mais livros, filmes e mais filmes enaltecem o papel desses heróis, que usam sua imaginação, sua determinação, sua ambição para criar negócios revolucionários, para deixar sua marca, um legado.

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Enquanto os marxistas projetam sua própria visão limitada de mundo, de que tudo é só pelo lucro, os empreendedores superam obstáculos e constroem impérios no mundo corporativo, inovando, trazendo mais conforto para os consumidores, tornando produtos antes para poucos acessíveis às massas. Tanto que A revolta de Atlas, de Ayn Rand, é um dos livros mais influentes nos Estados Unidos: o público entende o que move um empreendedor, e respeita isso.

O que não é respeitado é quem só pensa em expropriar a riqueza alheia, detonar a meritocracia, pregar a igualdade forçada de resultados, independentemente do valor gerado para a sociedade. O socialismo, para a maioria dos americanos (à exceção dos jovens universitários vítimas de doutrinadores), é visto como aquilo que de fato é: a pura idealização da inveja. Populistas e demagogos que só prometem distribuir bens “gratuitos” não costumam ser tão populares nos Estados Unidos como são na América Latina. A pilhagem é condenável do ponto de vista ético.

Eis do que o Brasil está precisando urgentemente: melhores referências. Por que todo empresário rico de novela tem de ser um canalha desprezível? Reparem que Eurico, personagem de Humberto Martins em A força do querer, é o único que tem frases fortes contra a vagabundagem, o vício, a preguiça. Mas não por acaso ele é também o ícone de um perfil machista, preconceituoso, radical e intransigente.

Do mesmo autor:A mente justa (25 de julho de 2017)

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As bandeiras típicas da direita, como o mérito, o esforço individual, o trabalho árduo e o desprezo pela vitimização constante precisam estar sempre associadas ao machismo, ao preconceito, ao extremismo. A inversão de valores é total, e raramente se vê algum personagem de destaque levantando esses princípios básicos e razoáveis, e sendo tido depois como uma pessoa correta, boa.

O Brasil está carente de heróis. Tanto que chegou a flertar até com Joaquim Barbosa! O juiz Sergio Moro, sem dúvida, merece mais admiração até aqui, e não por acaso virou mesmo um herói nacional. Trata-se de um servidor público que tem feito seu trabalho com determinação e coragem, sem se intimidar com a pressão dos mafiosos. É um bom começo.

Mas precisamos de mais heróis, de outros tipos de heróis. Precisamos de lideranças dispostas ao sacrifício do curto prazo em benefício de um país melhor amanhã. E de empreendedores que sejam homenageados com nome em avenidas, para que lembremos quem cria a riqueza e os empregos, em vez de focar sempre naquele que só promete distribuí-la.

Para muitos brasileiros, ainda vale a máxima de Tom Jobim, de que o sucesso individual é pecado. O Brasil precisa amadurecer. E, para tanto, nada melhor do que enterrar seus falsos heróis, aqueles que sempre apelaram para discursos demagogos e nunca construíram nada, apenas chacoalhando as árvores para colher os frutos depois, à custa do esforço alheio.

Se um empreendedor acumulou R$ 10 milhões de patrimônio superando obstáculos burocráticos, enfrentando a concorrência de forma honesta e entregando algo de valor para seus consumidores, então ele precisa ser louvado como herói. Mas, se um político safado e oportunista faz discursos igualitários e socialistas enquanto junta R$ 10 milhões por meio de propina disfarçada de palestra para empreiteiros corruptos, então ele precisa ser demonizado como um inimigo do país.

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É fundamental saber escolher melhor nossos heróis. Quem são os seus? Aqueles que trabalham duro e com honestidade para construir um novo Brasil, ou aqueles que só querem preservar privilégios, usar bravatas de forma cínica para enganar os ignorantes e roubar enquanto estão no poder?

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.