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Amanhã e na quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil estará decidindo a nova taxa de juros básica da economia, a taxa Selic. Há um consenso entre os economistas em relação à necessidade de reduzir a taxa, dando continuidade à política empreendida nas últimas reuniões do Copom. O tamanho do corte, se 0,25 ou 0,5 ponto porcentual, é tema de debate. Este artigo apresenta cinco argumentos favoráveis a uma aceleração no ritmo de queda da taxa Selic, justificando, portanto, um corte de pelo menos 0,5 ponto porcentual nessa próxima reunião.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a taxa de juros se constitui, num regime de metas de inflação, no instrumento central de política monetária para alcançar a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A manutenção de taxas elevadas – vale lembrar que ainda temos a mais alta taxa de juros reais do mundo – faz sentido para períodos em que a expectativa da inflação do mercado supere a meta definida pelo CMN.

Vale lembrar que no ano passado a inflação acumulada foi inferior a meta. Nos primeiros meses deste ano não ocorreu nenhuma mudança significativa no cenário doméstico ou internacional que aponte para uma alteração nas expectativas dos agentes sobre o comportamento da inflação. Pelo contrário, a expectativa do mercado, sintetizada no relatório Focus do Banco Central, é convergente com a meta de inflação definida pelo CMN.

Em segundo lugar, uma taxa de juros mais baixa reduz a rentabilidade dos títulos brasileiros, contribuindo para diminuir a entrada de capitais de curto prazo. A queda mais acelerada da taxa de juros doméstica contribuiria para reduzir a oferta de dólares no mercado e, desta forma, conter a sobrevalorização do real, o que seria benéfico para elevar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.

Em terceiro lugar, a queda da taxa de juros contribuiria para aumentar os gastos com consumo e investimentos, ampliando a demanda agregada da economia. Juros básicos menores são necessários, ainda que não suficientes, para promover a redução dos juros ao consumidor e dos empréstimos destinados à realização de novos investimentos.

Em quarto lugar, destaca-se o impacto fiscal positivo da queda da taxa Selic. Vale lembrar que esta taxa ainda é o principal indexador de nossa dívida interna. Em março de 2007, 38,8% da Dívida Mobiliária Interna do Governo Federal eram indexadas pela Selic. Como a nossa dívida interna já ultrapassa a casa dos R$ 1 trilhão, o impacto sobre as finanças do governo de uma redução mais acelerada da Selic não seria nada desprezível. Reduzir em 0,25% os juros de um passivo de aproximadamente R$ 400 bilhões é relevante para um país cheio de carências como o nosso.

Finalmente, a queda mais acelerada da taxa de juros reduziria o espaço para o comportamento rentista que tem caracterizado o capitalismo brasileiro, em particular os nossos grandes bancos privados que, em função de seus interesses concretos, lutam pela manutenção de patamares elevados da taxa de juros. Os bancos têm lucros maiores com taxas de juros elevadas.

A política de queda da taxa Selic conduzida pelo Copom nas últimas reuniões, ainda que realizada de uma forma extremamente conservadora, já tem surtido efeitos positivos. Há indícios, tal como o crescimento da atividade industrial, que apontam para uma retomada do crescimento. No entanto, o ritmo de expansão é ainda insuficiente, sobretudo quando levamos em consideração o cenário internacional ainda francamente favorável. Em suma, a redução mais acelerada da taxa Selic contribuiria para a desejada retomada do crescimento sem afetar a estabilidade de preços.

Marcelo Curado é chefe do Departamento de Economia da UFPR e doutor em Economia pela Unicamp. mcurado@ufpr.br.

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