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Em tempos de acentuada crise hídrica no Sudeste brasileiro, sobretudo com impactos no fornecimento de água à população, e a tendência das mudanças climáticas se acentuando, muito se comenta a respeito de quantidade e pouco se fala em qualidade das águas dos rios e sua sustentabilidade. Os rios que cortam ou estão próximos das cidades estão mortos, especialmente pela ineficiência dos serviços de saneamento.

Como pode um país com a 7.ª economia mundial ter índices tão baixos de saneamento, acima da 100.ª colocação mundial? A crise apaga de vez com a falsa cultura de abundância de água no nosso país. Possuímos 18% da água doce do mundo, sem contar as grandes reservas de águas subterrânea dos nossos aquíferos.

O Paraná pode usar o exemplo de Seul em Curitiba, começando pelo resgate ambiental, social e histórico do Rio Belém

Temos água suficiente para nos dar conforto. Então, qual o motivo de faltar água se outros países com menos recursos hídricos conseguem ter sustentabilidade no abastecimento público? Tem algo que não está certo.

É fato que 85% da população brasileira reside em centros urbanos, o que faz com que se tenha demanda crescente de água para as cidades, exigindo muito planejamento e gestão, como fizeram outras regiões do mundo.

No 7.º Fórum Mundial da Água, na Coreia do Sul, nas cidades de Daegu e Gyeondju, foram apresentados vários modelos de gestão hídrica, tecnologia e experiências de recuperação de rios urbanos. Porém, preferi constatar pessoalmente uma delas, o projeto de reabilitação do Rio Cheonggyecheon, no centro de Seul.

A metrópole de 13 milhões de habitantes teve o seu principal rio ressuscitado, resgatando aspectos ambientais, culturais, sociais e históricos como o da ponte Ogansun. O rio devolveu à cidade a à população o conforto ambiental, o silêncio e a as áreas verdes. Tudo de forma integrada. Corri (sou corredor de rua) os 21 quilômetros do projeto, do início, na praça Cheonggye, até sua foz, no Rio Han, nas duas margens do rio.

Em cinco anos Seul reabilitou um rio morto e enterrado sobre ruas expressas e viadutos. Durante 13 meses foram removidos 680 mil toneladas de concreto e ferro, material que foi totalmente reciclado. O leito, reconstruído e com água limpa, resgatou a fauna e a flora, e agora oferece beleza e tranquilidade aos moradores. Um verdadeiro parque linear com vida.

A recuperação do Rio Cheonggyecheon foi feita pelo governo metropolitano de Seul com apoio de centros de pesquisa em recursos hídricos. O estado do Paraná, pioneiro em várias iniciativas e com o propósito de revitalizar o Rio Iguaçu, pode usar o exemplo de Seul em Curitiba, começando pelo resgate ambiental, social e histórico do Rio Belém. Cheonggyecheon nos prova que isso é possível.

Mauri Cesar Barbosa Pereira, engenheiro florestal, é diretor da Região Sul da Rede Brasil de Organismos de Bacias e secretário adjunto permanente da Rede Latino Americana de Organismos de Bacias.
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