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 | Vladimir Platonow/Agência Brasil
| Foto: Vladimir Platonow/Agência Brasil

Quem é da geração dos anos 70, pelo menos alguma vez na vida, assistiu a um filme de bangue-bangue em que, entre os muitos enredos, estava o do roubo de gado ou de cargas por quadrilhas organizadas no processo de expansão do Oeste norte-americano. O Rio de Janeiro do século 21 parece repetir, em tons de tragédia, a história dos tempos do faroeste: os casos de assaltos a cargas, principalmente na região da Pavuna, vêm se repetindo diariamente. Há cinco anos, este tipo de crime não chegava a 500 casos no Rio de Janeiro.

Essa situação mostra, mais uma vez, que a incúria das autoridades responsáveis pela segurança pública nos últimos anos – que arrostavam controle sobre a cidade e seus índices criminais – eram nada mais do que uma bazófia para encobrir a falta de preparo e investimentos sustentáveis no setor de segurança pública. O crime atua na lógica do custo benefício. E, em sua análise de mercado, vislumbra o lucrativo negócio do roubo de cargas, em um cenário de absoluta insegurança, crise econômica e desemprego, deteriorando o poder de compras das classes menos abastadas, devido à facilidade relativa em cometimento desse tipo de delito.

Os roubos têm localização geográfica definida e periodicidade

Criando uma rede de distribuição que trabalha na maior parte do tempo sob demanda, as gangues ligadas à venda de drogas abrem essa nova frente de negócios aproveitando-se da incapacidade do Estado em prover segurança. Diante disso, o Brasil fica ao lado de países onde o Estado já desapareceu há muito tempo, como o Iraque e a Somália. Triste companhia. O corolário é aumento do valor dos seguros, perda de confiança entre os setores econômicos envolvidos no transporte de carga, vidas inocentes muitas vezes violentadas emocionalmente e perdidas em alguns casos. Enfim, estabelece-se um quadro de verdadeira anomia social.

O Estado pode e tem elementos para reverter essa situação. Os roubos têm localização geográfica definida e periodicidade. Falta vontade política, ações de mapeamento e inteligência e uso de intervenções táticas nos morros à volta da região criminosa (conhecida entre os locais como rua do “roubadinho”), para que se obtenha sucesso e se refreie essa escalada criminosa.

Leia também: Roubo de cargas, um problema social (artigo de Sérgio Malucelli, publicado em 31 de agosto de 2017)

Leia também: A intervenção federal no Rio e a especificidade da crise fluminense (artigo de Christian Lynch, publicado em 16 de fevereiro de 2018)

Cabe aos agentes econômicos sabedores da virtual falência do estado do Rio de Janeiro se mobilizarem, a suas entidades de classe junto ao Estado e ao Exército para proverem os meios e os recursos necessários a ações perenes que garantam a volta da segurança e a sua manutenção. E cabe ao Estado parar de se lamentar e se posicionar, apesar da crise econômica que se abate sobre ele, em uma proposta ativa de uma “parceria público-privada”, algo na linha das bem-sucedidas operações desenvolvidas pela Fecomércio. Ações que ajudaram a reduzir consideravelmente os índices criminais nos seus locais de atuação e que ganharam a simpatia da população. Obviamente que são situações bem distintas, mas soluções de curto prazo existem. Basta querer desenvolvê-las. Desse modo, o faroeste no Rio de Janeiro ficará restrito às telas do cinema e as reprises da tevê.

Newton de Oliveira é professor de Direito da Faculdade Mackenzie Rio e ex-subscretário-geral de Segurança.
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