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Sempre que se promove uma pesquisa sobre o maior anseio de cada pessoa, a resposta quase unânime é de ser feliz. Hoje essa felicidade será a conquista do hexacampeonato de futebol pelo Brasil. Pois quando o sentimento cívico – em geral um tanto tímido – é acrescentado dessa que é a maior paixão nacional, aflora o imensurável. Todavia, passada a primeira hora, a vitória de per si a ninguém garante felicidade integral e permanente. O desejo de obtê-la, inerente ao ser humano, voltaria a inquietá-lo e a confundi-lo. É que há diferença entre satisfação e felicidade.

Nem todos sabem fazer essa distinção. A satisfação é acessível, na mor das vezes, com facilidade. A felicidade, por ser um derivado, um subproduto de algo, além de implicar preparo para atingi-la, para muitos torna-se inatingível. Assim, antes de empenhar afeto e mente em algo que absorva interesse, estudo, reflexão e aplicação, urge ter bem definida essa triagem. Em geral, é a satisfação a mais ansiada, um encontro possível com o sentimento de plenitude e prazer. Fugaz, diga-se de passagem. O conflito interior, contudo, permanece, uma ânsia por perenidade.

Há quem se lance em desenfreada leitura de livros em busca de ajuda. Quem procure um guru, um conselheiro, um guia, uma doutrina, uma religião e até um partido político. Há quem se isole na cláusura de uma idéia ou mesmo uma renúncia a relações afetivas. Não percebem esses que algo durável e permanente que tanto almejam, o algo mais a que possam apegar-se e confiar-se, está no âmago deles e nunca alhures. Como não desfrutam de experiência direta, pouco ou quase nada conhecem de si mesmos. A imediata satisfação definha do hoje para o amanhã. Dá prazer e logo desvanece.

Alumiar o insight para detectar reais intenções que possam ensinar a administrar aflições e, ao mesmo tempo, proporcionar um naco de felicidade, é de extrema dificuldade. Por isso tantos optam por se cristalizarem e se ensimesmarem. Sem o autoconhecimento do âmago, a busca pela felicidade torna-se inócua, já que não há base de apoio segura. Há também o risco de uma dicotomia entre o que se pensa querer e o que realmente se quer. Esse hiato entre pensador e pensamento próprio é com freqüência causa de imensa frustração. Ao contrário do que muitos supõem, trata-se de um fenômeno conjunto e não dois processos distintos.

Quem preza autenticidade e coerência internas e externas é vigilante para com a própria evolução do conceito de felicidade que tem. Sabe que o autoconhecimento não implica oposição ou renúncia à vida relacional e afetiva. Por ser infinito, o autoconhecimento jamais conduz à conclusão definitiva. É como um rio sem fim. Somente a profundidade da auto-reflexão leva à paz interior, diferindo da autodisciplina severamente imposta. Se esta provoca tumulto interno e forte ansiedade, aquela inspira a bem-aventurança e a ação criadora.

A compreensão acurada do que se é, sem disfarce, independente de beleza ou feiúra, bondade ou perversidade, que o "espelho" traduz, é o começo da virtude. É a opção certa do caminho para a felicidade, o aperfeiçoamento da condição humana.

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