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Que o governador Requião gosta de uma hipérbole ninguém duvida, mas essa agora de anunciar que quer criar uma rede de estradas alternativas ao Anel de Integração em que o pedágio não seria cobrado e denominá-la de "Estradas da Liberdade" é de uma teatralidade vazia a qualquer prova. Primeiro porque Requião é uma pessoa inteligente e sabe que esse tipo de projeto, que deve lhe ter sido sugerido por um marqueteiro desvairado encantado com a sacada e com o rótulo, não resiste a uma discussão séria de cinco minutos. Depois porque sabe certamente que os cofres do Estado não estão abarrotados de dinheiro para aplicá-los em mais um round dessa interminável guerra de egos e de liminares que é a novela do pedágio. Em um estado em que as carências de infra-estrutura são gritantes há mais o que fazer com quase 300 milhões de reais do que nas tais "Estradas da Liberdade". A palavra "liberdade" aliás deveria ser preservada para sinalizar objetivos mais ambiciosos, capazes de realmente materializar as "libertações" de que fala Amartya Sen em seus escritos sobre o desenvolvimento: para o economista indiano, uma sociedade desenvolvida é aquela que se liberta da pobreza, da ignorância, da falta de oportunidades, da desigualdade, do descaso dos poderes públicos, da opressão e da tirania.

Nosso estado está longe de poder se considerar liberto desses males. Dois terços dos municípios paranaenses apresentam Índices de Desenvolvimento Humano inferiores à média nacional, a qual por si mesma já é deprimente. Três quartos deles dependem vitalmente de transferências governamentais para sobreviver, pois seu dinamismo econômico próprio é nulo ou quase nulo. A economia está concentrada em alguns setores e em algumas regiões e em boa parte do território estadual as oportunidades de vida e de trabalho escasseiam, transformando centenas de núcleos habitacionais em vilas-dormitórios ou cidades-fantasmas. Enquanto isso, a infra-estrutura econômica e social vai envelhecendo e os "face-lifting" que tem recebido nos últimos tempos não são suficientes para disfarçar a passagem do tempo sobre a velha dama paranaense.

Essas questões são bem conhecidas de todos os candidatos e, portanto, não devem surpreendê-los. O que é surpreendente e desanimador, no entanto, é a aparente incapacidade que suas plataformas eleitorais têm demonstrado de propor idéias, soluções e iniciativas ambiciosas para elas. Parece que a campanha para o governo do Estado se transformou em uma megacampanha municipal, em que os postulantes aos nossos votos se esmeram em prometer distribuir mais alimentos, cobrar menos pelos serviços públicos, fazer mais creches, contratar mais policiais para o serviço de rua tais como faria o diligente prefeito municipal ou os dedicados vereadores locais.

Onde estão as idéias para fazer com que o Paraná tire proveito dos grandes processos geoestratégicos que estão se processando como a globalização econômica e a integração dos sistemas produtivos em escala planetária? Que pretendem fazer os candidatos para que o estado cresça mais do que os pífios 3,2% que se espera para o país como um todo? Que pretendem os candidatos fazer para promover a coexistência entre atividades industriais de grande porte com as economias locais e regionais? Quais são as idéias concretas para fazer com que o sistema educacional paranaense dê um salto de qualidade realmente dramático, de modo a tirar proveito do florescimento da Era do Conhecimento e permitir aos cidadãos acesso à educação de alta qualidade e ao sistema produtivo a aceleração do desenvolvimento científico e tecnológico em níveis capazes de alterar significativamente o perfil socioeconômico de nosso estado? Quais são as idéias centrais para modernizar o governo paranaense cujas estruturas e processos estagnaram nos anos 70 quando sofreram a última revisão significativa.

Carecemos de objetivos ambiciosos. Não podemos amesquinhar nossos ideais a essa visão mediocrizante de que, se estamos em situação levemente melhor do que a tragédia nacional, podemos nos rejubilar. Nosso ensino fundamental é um pouco menos medíocre do que a média nacional mas permanece medíocre; o estudante paranaense do ensino médio é um pouco menos analfabeto funcional do que a média dos estudantes brasileiros testados pelo Instituto Anísio Teixeira – INEP, mas continua a ser um analfabeto funcional, incapaz de adaptar-se às exigências do mercado de trabalho contemporâneo. Nossos padrões sanitários são um pouco melhores do que a horrorosa média nacional, mas continuam abaixo dos patamares civilizatórios mínimos.

É pouco. Um estado como o Paraná tem o direito de esperar de seus governantes ambições muito maiores do que conviver com a mediocridade geral dos serviços públicos do país, auto-consolando-se por estar um passo adiante dela!

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da FAE.

(bvcastor@netpar.com.br)

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