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Um partido político sem posição clara sobre cada problema não é partido. É, no máximo, um clube eleitoral

Depois que a terra tremeu e o mar se levantou na frente de Fukushima, o mundo inteiro despertou para o risco da energia nuclear. Mas não se vê qualquer discussão ou pressão partidária sobre a questão da energia nuclear. Na defesa do meio ambiente e contra os grandes lagos das hidrelétricas e as imensas termelétricas, muitos chegaram a considerar a opção pela energia nuclear como uma forma limpa de produzir energia.

Em função disso, em 2009, fui a Chernobyl e vi os estragos que um vazamento nuclear provoca. A cidade foi abandonada em horas, ninguém pôde levar nada. Vinte anos depois, as árvores tomaram conta: entram pelas casas e prédios, derrubam paredes e ocupam todos os espaços. Milhares de pessoas foram contaminadas e até hoje sofrem de doenças graves, que foram transmitidas de uma geração para outra. A terra ao redor do local do acidente ficará contaminada por milhares de anos e a economia arruinada. Nem o turismo poderá ser uma alternativa porque o visitante só entra depois de uma difícil autorização. É proibido ficar mais do que algumas horas. Recebi permissão para ficar na área onde a usina explodiu por apenas seis horas. Ao sair, fui submetido a medidores de radioatividade para saber se estava autorizado a ir para o hotel ou se seria levado a um hospital. E não passar no teste significa, obrigatoriamente, ficar isolado em um hospital.

Apesar disso, não se conhece a posição dos partidos brasileiros sobre a energia nuclear como alternativa. Sobretudo, não se vê os partidos, nem mesmo o PV, defendendo a alternativa da redução nas necessidades do consumo de energia, o que só é possível com a redução na produção e o uso de outras fontes de energia, como eólica e solar. O decrescimento nem ao menos é debatido em nossos partidos, como se Chenobyl e Fukushima não tivessem acontecido.

Não se conhece também a proposta de qualquer partido sobre como deve ser a reforma política. Nem sobre como tratar o problema da droga, ou o que fazer para evitar o efeito de longo prazo do pior e mais permanente dos tsunamis, a deseducação do País.

Ninguém conhece, nem procura a decisão de qualquer partido político. Um partido político sem posição clara sobre cada problema não é partido. É, no máximo, um clube eleitoral. Os políticos se juntam sob a bandeira de um partido apenas para disputar eleição. Depois de eleitos, não recebem do partido orientação sobre os problemas enfrentados pelo Brasil e pelo mundo.

Cada parlamentar no Brasil é independente, salvo nos raros momentos de votação. Porque não há partidos verdadeiros. Eles não tomam posição clara sobre a questão nuclear, a questão ambiental, a Líbia, a reforma política e, sobretudo, o modelo econômico para que a energia nuclear deixe de ser necessária.

Apesar de Chernobyl ter ocorrido há 20 anos, o mundo inteiro continua optando pelas fontes nucleares como alternativa energética. O Brasil já dispõe de dois reatores em Angra dos Reis, e mesmo depois do que ocorreu em Fukushima, o governo fala em ampliar o número de centrais atômicas para oito. Todos sabem do risco catastrófico que corremos ao implantar essas usinas, mas continuamos insistindo nelas. Enquanto isso, os partidos continuam calados.

Cristovam Buarque é senador da República pelo PDT-DF.

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