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Exportações no Porto de Paranaguá, no Paraná.
Imagem ilustrativa.| Foto: Ivan Bueno/APPA

Depois de tantos meses de aflição, com números ruins em várias frentes, a economia brasileira reagiu e apresentou sinais consistentes de melhora nas últimas semanas, tanto do ponto de vista macroeconômico, quanto do mercado financeiro. A situação contrasta com um agravamento do cenário da economia global, em que há um aumento do risco de recessão e continuidade do aperto monetário, que devem ser observados com cautela pelos brasileiros.

A inflação arrepiante vista até meados deste ano parece contida. É o que mostram os sucessivos resultados dos indicadores oficiais. O mais recente, o IPCA-15 de setembro (que é a prévia do índice oficial, o IPCA) recuou 0,37% em relação ao mês anterior, acumulando uma alta de 4,63% no ano e de 7,96% nos últimos 12 meses. Trata-se, portanto, de uma surpresa positiva, já que o mercado esperava um recuo mensal menor, de 0,20%, e um acumulado anual de 9,60%.

O Brasil também vem sendo considerado um bom negócio para os investidores quando comparado com outros países da economia global. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, obteve o melhor desempenho do mundo no acumulado do ano, com retorno de +5% em reais e de +8% em dólares. Em comparação, o S&P 500 acumula baixa de 25% em 2022. As ações das empresas brasileiras estão atrativas – mesmo com a taxa Selic mantida em 13,75% –, graças aos preços baixos e ao nível de Prêmio de Risco em 9,4%, patamar superior à média histórica.

Lá fora, os países ainda sofrem para controlar a alta de preços. Na zona do euro, por exemplo, a inflação aumentou 1,2% em setembro (o mercado projetava alta de 0,9%), o que elevou a taxa anual a históricos 10%, batendo um novo recorde, resultado bastante disseminado entre países e setores, o que torna o panorama ainda mais negativo. Já nos Estados Unidos, o índice PCE Deflator, que é o mais usado pelo Federal Reserve (Fed), teve uma leve melhora, subindo 0,4% no mês e 6,2% em 12 meses, mas ainda bastante alto.

Para enfrentar um problema dessa magnitude, um remédio amargo. O Fed elevou em 0,75 ponto percentual a taxa de juros americana. É a terceira alta consecutiva e está longe de ser a última, segundo a autoridade monetária. No Velho Continente, o Banco Central Europeu também adotou uma postura mais agressiva, elevando os juros em 0,75 p.p., assim como o Banco da Inglaterra, que subiu em 0,50 p.p. A situação não está fácil para a economia global.

De fato, o cenário no Brasil está bem mais positivo, mas não se pode baixar a guarda. A movimentação no exterior pode nos afetar de diferentes formas. A primeira é que o aumento robusto e brusco dos juros nos EUA tende a fortalecer ainda mais o dólar, prejudicando outras moedas. Isso vem sendo observado, principalmente, na Europa, quando se compara o valor do euro e da libra com a moeda americana. E num momento de escassez de energia e em que a maior economia do mundo é exportadora de petróleo e gás, sua moeda também se beneficia.

Outro fator de atenção é a recessão global que se avizinha e é cada vez mais tida como certa pelas previsões do mercado. Além do aperto monetário, há um temor pela desaceleração da economia chinesa e dos riscos geopolíticos, sobretudo relacionados ao prolongamento e às consequências posteriores da guerra na Ucrânia. Isso vem gerando um aumento da aversão ao risco por parte dos investidores internacionais, que tendem a buscar segurança nos ativos mais seguros do mundo, os títulos da dívida dos EUA, que também estão pagando mais.

O que o Brasil pode fazer para se proteger dessa piora de perspectivas? A dívida e o serviço da dívida do país estão elevados e, por isso, a responsabilidade na política fiscal entre a reta final deste ano e 2023 é fundamental para quem quer que esteja no poder. Com o controle nos gastos públicos, aumentam as chances de a inflação seguir caindo e, consequentemente, de o Banco Central encontrar espaço para reduzir os juros, criando um ambiente propício ao crescimento econômico.

Rodrigo Sodré, economista com MBA em Investimento e Riscos pela Fundação Getulio Vargas (FGV), é sócio da BRA.

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