Presidente Jair Bolsonaro. Imagem ilustrativa.| Foto: Marcos Corrêa/PR
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Certa feita, numa reunião política, um senhor, veterano de campanhas políticas, com vitórias e derrotas, asseverou para todos: “em política, de tudo que vivi, escrevi, o mais importante é estar atento a duas palavrinhas: feeling timing! O resto é menos importante”. O embate do presidente Bolsonaro com o governador de São Paulo, João Doria, é, sociológica e politicamente, revelador do feeling e timing de cada um, especialmente no que tange à vacina capaz de imunizar contra o coronavírus.

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Em 7 de dezembro, Doria anunciou que em 25 de janeiro de 2021 iniciará a vacinação em São Paulo para profissionais de saúde, indígenas e quilombolas e todos aqueles que, residentes ou não no estado, buscarem os postos de saúde. Tal afirmação do governador deu-se sem que a vacina Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, tenha recebido o registro da Anvisa. Afirmou, ainda, que em 15 de dezembro deste ano enviará à agência todas as informações científicas atinentes ao processo de desenvolvimento da vacina, bem como aguardará o prazo de 40 dias para que a Anvisa conceda a autorização para iniciar a vacinação.

Com essa atitude, não foram poucos os jornalistas e analistas políticos que indicaram que Doria coloca, no tabuleiro da política, um xeque-mate em relação a Bolsonaro. Rememore-se que, não faz muito, Bolsonaro, nas redes sociais, comemorou a paralisação dos testes da Coronavac por conta de um óbito, cantando vitória em relação à “vacina do Doria”. Contudo, pouco depois, o óbito foi esclarecido como um suicídio, sem relação direta com possíveis efeitos colaterais da vacina.

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No Brasil, com cerca de 177 mil mortos e elevação no número de contaminados e óbitos que, para especialistas, pode indicar uma segunda onda no bojo da pandemia, o que fez, politicamente, o presidente Bolsonaro? Em evento, também no dia 7, no Palácio do Planalto, Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, inauguraram uma exposição dos trajes usados por ambos no dia da posse, em janeiro de 2019. Como não poderia deixar de ser, o evento recebeu críticas assaz pertinentes, pois até o momento não há, por parte do presidente ou do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, nenhum sinal acerca de um plano nacional de vacinação. Pazuello, inclusive, aceitou a “missão” de ser ministro da Saúde pois muito se confiava em sua competência no campo da logística, aspecto imprescindível para uma vacinação em todo o território nacional. Até agora, seu conhecimento em logística não teve utilidade no ministério que, ao que tudo indica, está à deriva com um ministro que foi – como os antecessores – desautorizado sucessivas vezes por Bolsonaro.

Assim, ao que tudo indica, a Coronavac está prestes a se tornar realidade em São Paulo. Em contrapartida, a vacina com recursos federais, desenvolvida pela Fiocruz em parceria com Oxford/AstraZeneca, apresenta dificuldades nos procedimentos de pesquisa e ainda há necessidade de investimentos mais volumosos do governo federal para a construção de uma fábrica capaz de produzir o imunizante. Neste cenário, prefeitos e governadores já iniciam as tratativas junto ao Instituto Butantan e ao governo de São Paulo, bem como alguns países já sinalizaram interesse na Coronavac. Neste caso, estes atores políticos – prefeitos e governadores – há tempos são descrentes de que Bolsonaro exerça uma efetiva liderança política efetiva no combate à pandemia. Pode até ocorrer judicialização da vacinação, com demandas chegando ao Supremo Tribunal Federal.

Deixo ao leitor as duas palavrinhas do início deste escrito: feeling timing. Quem, Bolsonaro ou Doria, no que tange à pandemia e à vacina, apresenta maior sensibilidade (feeling) e senso de oportunidade e domínio do tempo (timing)? Como estarão, ambos, eleitoralmente, em 2022? Veremos.

Rodrigo Augusto Prando, graduado em Ciências Sociais, mestre e doutor em Sociologia, é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie.