Hoje, no mundo, mais de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos, o que equivale a um suicídio a cada 40 segundos, correspondendo à segunda causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos e a uma tentativa a cada 3 segundos, já que as tentativas tendem a ser de dez a 20 vezes maiores. Para sensibilizar sobre o tema, promover o diálogo e diminuir o tabu sobre o assunto, em setembro deste ano foi lançado o primeiro relatório mundial da OMS, chamado "Suicídio: Um imperativo global".

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Por causa de pouco ou nenhum acesso a recursos e serviços para a identificação, tratamento e suporte das pessoas que dele precisam, 75% dos casos acontecem nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Embora nossas taxas sejam relativamente baixas – 5,9 por 100 mil habitantes –, elas tiveram um aumento significativo nos últimos dez anos. O Brasil está em 8.º lugar no ranking em números absolutos, o que corresponde a 11.821 mortes em 2012, ou seja, uma a cada 45 minutos.

Em 90% dos casos, o suicídio pode ser prevenido. Para isso, ações nacionais, locais e regionais são necessárias, dentre elas a restrição do acesso aos meios; diagnóstico e tratamento de doenças mentais, já que em 90% dos casos as pessoas estavam com algum transtorno mental (em sua maioria, depressão) quando cometeram o suicídio; redução e tratamento do uso abusivo de álcool e drogas; diretrizes de notificação responsável pela mídia; apoio aos enlutados pelo suicídio.

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Em 2006, foi lançada no Brasil a Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio, mas, embora tenha sido elaborada por profissionais competentes e seja bem abrangente, praticamente não saiu do papel.

Diversos fatores influenciam o suicídio. Ele nunca tem uma causa única ou é culpa de uma pessoa; tem relação com a dor, o desespero, a angústia, um sofrimento intolerável, e é visto como a saída para essas questões, mais do que a vontade de morrer. Entre 50% e 75% das pessoas dão sinais claros da sua intenção, embora muitos desses sinais só sejam percebidos depois. Todos podem ajudar alguém que esteja pensando em se matar, ao perguntar, ouvir e acolher. Para isso, é importante conhecer os sinais e fatores de risco.

Sinais de risco são falar em se matar, sem ter razão para viver, com sensação de ser um peso para os outros, sentir-se preso e sem saída, com grande sofrimento, aumento do uso de drogas e/ou álcool, procurar meios para se matar ou com um plano estabelecido, mudança perceptível de atitude, isolamento, despedir-se das pessoas, dar pertences importantes. Fatores de risco são doenças incapacitantes ou dor crônica, transtorno mental, histórico familiar de suicídio, tentativas de suicídio prévias, abuso de álcool ou drogas, eventos de vida estressantes (luto, divórcio), desemprego, acesso aos meios letais.

Caso haja a suspeita de alguém em risco de suicídio, nunca duvide da pessoa; leve-a a sério, converse, não julgue, procure ajuda especializada de um psicólogo ou psiquiatra se necessário. Em caso de emergência, ligue para o 190 ou para o CVV (141). O suicídio pode ser prevenido e o luto, acolhido.

Karen Scavacini, psicoterapeuta, é mestre em Saúde Pública e doutoranda em Psicologia pela USP. É fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio e autora do livro E agora? Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio.

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