Assim como em outras nove ocasiões nos últimos 15 anos, os trabalhadores técnico-administrativos das universidades federais estão em greve por tempo indeterminado a partir de hoje. Aqui no Paraná, serão paralisados serviços administrativos e de apoio aos estudantes na Unila, na UFPR, na UTFPR e na UFFS.

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Mas por que essas greves têm sido tão frequentes? Sabemos que o discurso recorrente de que a educação é prioridade não é realidade e as greves em todos os níveis de governos estão aí para mostrar isso. No caso da educação federal, os técnico-administrativos são os que recebem o menor salário de todo o funcionalismo federal. E em inúmeras vezes foram feitos acordos para reverter isso e tais pactos não foram cumpridos.

Seremos mais uma categoria ao lado de tantas outras que já estão lutando contra esse ajuste fiscal que só corta de um lado

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Essa é a principal causa das greves se acumularem: os problemas são tantos que acaba ficando difícil resolvê-los de uma só vez (claro, estamos falando num contexto de baixo interesse da política hegemônica em resolver definitivamente esses problemas). Desta forma, uma greve é encerrada já com situações que motivariam uma nova greve.

Além disso, em todas essas nove paralisações que fizemos desde 2000, o modo de negociação do governo federal, seja com FHC, Lula ou Dilma na Presidência da República, foi o mesmo: o Executivo demorou no mínimo 60 dias para abrir uma mesa de negociação (em algumas ocasiões, como em 2000, 2005 e 2014, nem mesa de negociação foi aberta). Com esse formato, as negociações começam com a categoria já cansada e a chance de se aceitar um acordo que não traz melhoras efetivas é grande.

Neste ano, além da pauta específica, reivindicamos 27,3% de reposição salarial. Esse índice se refere às perdas inflacionárias que tivemos desde 2011. E isso acontece porque não temos, no âmbito do serviço público federal, algo que é básico: o direito à data-base, negociação coletiva e reposição anual no mínimo da inflação. Esse direito já existe para todos os trabalhadores contratados via CLT e em vários estados e municípios brasileiros. Mas no nosso caso não há essa garantia. O governo federal nos recebe se quiser.

Ao longo desses anos, nossas paralisações também serviram para frear projetos mais específicos de desmonte da saúde e da educação pública. Foi assim com a greve de 2001, quando nossa pressão fez com que um projeto que previa a venda de 25% dos leitos dos hospitais universitários (como o HC/UFPR) fosse rejeitado. Em outros momentos, as greves também deram o recado de que queremos direitos e não aceitamos retrocessos. Nossas greves também sempre trouxeram à tona o problema da falta de funcionários e da crescente precarização do trabalho via contratação de terceirizados.

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E agora, em 2015, nossa luta se insere num contexto de um gigantesco corte orçamentário na educação federal, que vem praticamente paralisando o funcionamento das instituições federais de ensino. Seremos mais uma categoria ao lado de tantas outras que já estão lutando contra esse ajuste fiscal que só corta de um lado.

É por tudo isso que tenho tranquilidade em afirmar que nosso movimento é justo e merece o apoio de toda a sociedade ou, pelo menos, daquela parte que sonha com um país em que a educação como prioridade não seja mais apenas discurso.

Bernardo Pilotto, técnico-administrativo da UFPR, membro do Comando Local de Greve e ex-diretor do Sinditest.