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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

É tempo de travessia. Dentre tantas caminhadas ímpares que a vida vêm impondo, uma delas merece um destaque pela inventividade e impacto sem precedentes: a educação universitária.

É tempo de educar para a razão com o coração. Ensinar sempre foi uma missão igualmente técnica e missionária. Como um último sopro, o educador vocacionado sempre entrou em campo certo de que se eterniza em um aprendizado constante no ciclo de energias que se constrói na ímpar relação professor-aluno. Entretanto, ensinar em tempos de Covid parece reforçar o conhecido paradigma de que saber perguntar pode valer mais do que trazer dezenas de respostas cujas certezas podem se esvair em segundos.

Sim! É tempo de certeza das incertezas e, por outro lado, é tempo de certeza da nossa única certeza. Exercitar a humildade e a humanidade nunca foram tão necessários em um sistema educacional que precisa ser mais pessoal que nunca por detrás das telas dos computadores e mais assertivo que sempre ao exercitar o criticismo construtivo e a humanidade acolhedora. Se já era um desafio a construção de habilidades referenciadas por um misto de tecnicismo e emoção, a tendência do ensinar além do livro paradoxalmente nunca esteve tão forte.

É tempo de transmitir o que não sabemos e o que precisaremos construir. Quantas aulas sobre Coronavírus nos foram dadas em nossos cursos universitários? Subitamente o maior problema da humanidade torna-se um assunto cujo nome não constava no ementário das melhores universidades do mundo. E esse mesmo problema desencadeia a certeza de que verdadeira é apenas a busca. A verdade é sobretudo um caminho, não um fim. Ensinar a trilha científica das verdades nos mais diversos campos que se mesclam se torna o maior ativo de uma instituição de ensino.

É tempo de criatividade. Em um modelo cada vez menos presencial, cabe uma reflexão sobre o paradigma temporal. Concluir um curso universitário tem que ser mais do que vencer uma corrida de obstáculos representados por disciplinas que somadas se constituem uma graduação. É mister sair da colcha de retalhos e, ao invés dela, construir um fluido, colado pela alma humana e pela curiosidade genuína, que não precisa ser igual para todos mas que  busque de cada aluno sua forma mais bela, mais vívida, mais servil e mais feliz.

É tempo de travessia.  E, como diria o poeta, se não ousarmos fazê-lo estaremos para sempre “à margem de nós mesmos”.

José Knopfholz é médico cardiologista, decano da Escola de Ciências da Vida da PUCPR e conselheiro responsável pela Comissão de Ensino Médico do CRMPR.

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