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Para algumas pessoas não basta apenas fechar a boca e fazer atividade física para emagrecer. No caso de muitos homens e mulheres, a obesidade é uma condição que merece atenção de diversas especialidades, inclusive da psiquiatria e da psicologia. Isso porque fatores psicológicos podem levar ao aumento de peso e à obesidade.

Pessoas deprimidas têm grandes chances de ganhar peso, porque ficam sedentárias e costumam consumir mais alimentos calóricos. O sedentarismo e o consumo desses alimentos provocam aumento de peso, desmoralização e mais depressão, em um ciclo que se perpetua. Conflitos internos também podem colaborar para que o indivíduo compense seus problemas, aumentando o consumo de determinados alimentos gordurosos e altamente calóricos, como doces e chocolates.

A ciência está comprovando que pessoas obesas têm menor saciedade e uma necessidade maior de consumir alimentos calóricos para compensar essa deficiência. Isso porque o excesso de gordura corporal libera várias substâncias tóxicas para todo o organismo, inclusive para o cérebro, provocando prejuízos às áreas que controlam a sensação de saciedade e a capacidade de resistir ao consumo de alimentos gordurosos. Não se trata apenas de não ter competência para se controlar, mas as pessoas obesas sofrem de efeitos tóxicos da obesidade sobre o cérebro, provocando alterações na maneira como elas se alimentam, pensam e se emocionam.

Tendo em vista que a obesidade é uma doença de causa multifatorial e envolve questões psíquicas, os pacientes acabam procurando as mais variadas formas de cura. Uma das soluções mais eficazes para o problema da obesidade mórbida é a cirurgia bariátrica. Em contrapartida, este tipo de procedimento cirúrgico – que muda a vida do paciente obeso de uma hora para outra – também exige um preparo psicológico e acompanhamento psiquiátrico.

A minha linha de trabalho é encaminhar sempre para a avaliação psiquiátrica todos os pacientes que desejam fazer a redução de estômago. A consulta com o psiquiatra irá detectar qualquer distúrbio que possa prejudicar a boa evolução do paciente no período pré-operatório e pós-operatório. O profissional procura investigar se o candidato à cirurgia bariátrica sofre de algum transtorno por uso de substâncias químicas e outras condições psiquiátricas como depressão e transtorno bipolar. Além disso, a personalidade e o temperamento do paciente são avaliados para sabermos se ele tem condições mentais e emocionais para se beneficiar da cirurgia bariátrica, ou se a operação não passará a ser um problema a mais em sua vida.

O preparo para o pós-operatório imediato inclui estratégias para enfrentar as mudanças que a cirurgia causará na vida do paciente, como a privação alimentar. Já o preparo para o pós-operatório tardio visa recuperar habilidades que os pacientes deixaram de desenvolver ou interromperam devido à obesidade.

A cirurgia bariátrica é o melhor tratamento para a obesidade mórbida, mas o sucesso também depende muito da participação ativa do paciente no tratamento. Ele passará por uma mudança importante na sua maneira de viver, e o acompanhamento psiquiátrico auxilia na sua motivação e engajamento nesse processo de mudança.

Agora, se a depressão já se instalou, o melhor a fazer, além do descrito acima, é procurar ajuda profissional. Psiquiatra não é "médico de gente doida" e ele poderá identificar o problema a tempo e procurar dar um fim em todos os transtornos. O mais importante é ter sempre em mente que a sua saúde é o seu bem mais precioso, mesmo que você não use tamanho 38.

Caetano Marchesini, cirurgião bariátrico e endoscopista especializado em obesidade , membro da Federação Internacional de Cirurgia para Obesidade, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva.

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