| Foto: Roberto Custodio/Arquivo Jornal de Londrina

“Eu estava na água e ela se aproximou de mim. Eu tentava me afastar, mas ela me colocou sob as suas nadadeiras peitorais... simplesmente girando ali, comigo no corpo dela”, contou Nan Hauser, bióloga e pesquisadora de cetáceos, depois de ter sido salva por uma baleia-jubarte em pleno Oceano Pacífico. O que de início pareceu assustador se revelou um ato de proteção: por perto rondava um tubarão-tigre. Segundo ela, as baleias-jubarte são “altruístas” e costumam ajudar animais em perigo. “Uma das mais marcantes experiências de minha vida”, complementa Nan.

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Longe de lá, na Escola Municipal Darcy Ribeiro, um professor se engaja como pode para salvar crianças e a escola onde trabalha. A Darcy Ribeiro aparecia com frequência na mídia de São José do Rio Preto (SP) como uma das escolas mais violentas da região: violência, vandalismo e altos índices de evasão escolar. Quando fui conhecê-la, não só achei a fachada feia, como vi que o muro era cheio de buracos onde usuários guardavam suas drogas. Os banheiros não tinham nem vaso sanitário, conta Diego Mahfouz Faria Lima suas primeiras impressões ao assumir a direção da escola, em 2014.

Os estudantes não sabiam que corriam perigo

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Como reverter o ciclo do uso de drogas, violência e baixo rendimento escolar?, foi a pergunta que martelou seus pensamentos, inspirou ações e impulsionou seu engajamento. Ele compôs o seleto grupo de dez finalistas do Global Teacher Prize, uma das mais importantes premiações de docentes do mundo, cujo vencedor foi anunciado poucos dias atrás. Segundo a Varkey Foundation, responsável pela premiação: “Acima de tudo, a escola atualmente tem um lugar na comunidade, e todos sabem que são bem-vindos ali”.

O professor Lima, cuja recepção “calorosa” dos alunos consistiu em atear fogo nos banheiros em seu primeiro dia de trabalho, apostou em algumas medidas: dar voz a eles, melhorar o desempenho e a relação entre aluno e escola, combater a evasão, embelezar as instalações e estabelecer vínculos com a comunidade.

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Depois de apagado o incêndio, ele anunciou pelo microfone que não iria embora. Às faltas frequentes, respondia com uma visita à casa do aluno. Lima pediu que escolas da região doassem sobras de materiais de construção e tinta. Ele mesmo pintou paredes e mais paredes durante as férias. Pais e alunos vieram, e um mutirão se formou. Bons alunos participam do plantão de dúvidas; foi criado o programa “Pare para Ler”, intervalo diário e coletivo de 15 minutos em que toda a escola, inclusive funcionários, interrompe suas atividades e... lê!

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Para estimular o interesse pela pesquisa científica, Lima fundou o clube de astronomia, que agora conta com um telescópio. Até o aprendizado de música clássica entrou na pauta.

Como a jubarte, nosso professor colocou-se entre quem estava em perigo e quem – ou o quê – estava causando o perigo. Como a bióloga, os estudantes não sabiam que corriam perigo. A baleia e o professor perceberam que tinham condições de proteger, contra-atacar e afastar a ameaça, apesar dos riscos. Os dois sabiam-se capazes de fazer a diferença na vida de quem precisava. E, verdadeiramente, mergulharam no grande ato da vida: fazer-se viver em abundância.

Adriana Kortlandt é psicóloga clínica e escritora, autora de “A Casa da Vida”.