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No imaginário de estudantes brasileiros, o vestibular representa uma via-crúcis a ser percorrida para ingressar em uma universidade. Sabem que um diploma de nível superior lhes faculta a possibilidade de melhor vida futura. O calvário torna-se ainda mais íngreme quando se trata de ingressar em universidades públicas, pois, além de passar por exame de maior rigor, o processo ainda exige que os alunos realizem inscrições individuais para cada universidade, o que requer uma boa logística e custos elevados para aqueles que participam de quatro a cinco exames por ano.

Porém o novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) representa uma quebra desse paradigma. Criado no governo Fernando Henrique, o Enem tinha como principal finalidade a avaliação do perfil de saída dos egressos do nível médio de ensino. Ao mesmo tempo, seu resultado poderia também compor parte da nota final no acesso a algumas universidades.

Ainda que tardiamente, em 2009 o ministro da Educação, Fernando Haddad, liderou proposta para unificação do exame nas universidades federais utilizando um novo modelo de prova. Com isso, os candidatos tiveram a possibilidade de não apenas realizar uma única inscrição como também optar por vaga em universidade federal em qualquer estado do país.

Apesar da boa iniciativa, o exame tornou-se alvo de inúmeras críticas. Em primeiro lugar pela falta de tempo para preparar melhor sua logística e implantação, o que levou metade das universidades federais a não aderirem ao sistema. Em segundo, pelo vazamento do conteúdo, com adiamento da prova e gastos extras elevados. Em terceiro lugar, pela dificuldade que os candidatos tiveram para acessar o sistema de seleção unificada (SiSU) e realizar sua inscrição nas diversas etapas.

O sistema de seleção possui também um dinamismo próprio e diversas fases, que precisa ser mais bem compreendido. É interessante observar que na primeira etapa, 793,9 mil estudantes se inscreveram para 47.913 vagas, das quais 47.680 foram preenchidas através do SiSU. Contudo, a vaga somente está garantida após a efetivação da matrícula na instituição. Assim, surpreendente foi o fato de restarem para a segunda etapa 29.240 vagas, o que representa 61% do total inicial oferecido. Ou seja, muitos estudantes não efetivaram suas matrículas ou resolveram mudar sua opção após a primeira etapa. A Uni­­versidade Tecnológica Federal do Paraná, por exemplo, está ofertando 2.784 vagas em 74 cursos, mas apenas 1.103 foram efetivamente preenchidas na primeira etapa (40% do total). A segunda etapa está em andamento e uma terceira pode ocorrer, caso ainda restem vagas remanescentes. Assim, vale questionar as razões que determinaram o não preenchimento das vagas logo na primeira etapa.

Mesmo com todas as dificuldades apontadas, não resta dúvida de que o novo Enem pode se tornar um instrumento mais simples e poderoso de acesso às universidades brasileiras, dentre elas as estaduais e privadas, se seus problemas forem sanados em sua próxima edição. Cabe agora ao Ministério da Educação resgatar a credibilidade do exame, de maneira que as universidades federais que não participaram neste ano possam aderir ao sistema sem ressalvas.

Alexandre de Almeida Prado Pohl, doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Técnica de Braunschweig (Alemanha), é professor da UTFPR

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