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Felipe Lima

Incentivo à produção de energia à base de carvão mineral e desestímulo à energia limpa são duas consequências imediatas do decreto assinado em 28 de março pelo presidente dos Estados Unidos. Outro efeito – perverso e, infelizmente, desconsiderado por Donald Trump – é o aumento da vulnerabilidade da própria sociedade norte-americana aos efeitos negativos da mudança climática. Nesse cenário, cabem preocupações sobre o quanto essas medidas afetarão em cadeia o esforço global de reduzir as emissões de gases de efeito estufa; por outro lado, abre-se espaço para que o Brasil e outros países consolidem-se como protagonistas de uma nova economia voltada à proteção ambiental e à baixa emissão de carbono.

O decreto de Trump desmonta o Plano de Energia Limpa dos EUA aprovado pelo seu antecessor em 2015, que criava incentivos para o avanço de fontes de energia não baseadas em combustíveis fósseis. Sob argumentos contestáveis de retomada de postos de trabalho, Trump deu um passo atrás e em falso ao tirar restrições do setor de carvão mineral, que é uma das fontes de energia mais poluentes.

A mudança global do clima é um dos maiores desafios do século 21

A posição do atual governo norte-americano implicará, ainda, na não adaptação do seu território aos efeitos adversos da mudança climática. Em 2005, o furacão Katrina tirou 1 milhão de pessoas de suas casas; certamente, as alterações no clima global tendem a tornar esse e outros eventos extremos cada vez mais frequentes. Isso significa que os EUA estão arriscando vidas, estruturas, atividades econômicas e a biodiversidade ao negligenciar a mudança climática.

Os custos de reparar danos como esses serão maiores que o investimento em ações para evitá-los – como já comprovou, em 2006, o economista britânico do Banco Mundial Nicholas Stern. Ademais, se essa adaptação fosse feita aproveitando o potencial que os ambientes naturais têm para tornar as sociedades mais resilientes, haveria custo ainda menor e benefícios adicionais, como mostra um estudo de 2015 da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Mesmo se houver esforço positivo do setor privado, os entraves governamentais tendem a dificultar que os EUA atinjam as suas metas de redução de gases-estufa, estabelecidas voluntariamente no Acordo de Paris – que entrou em vigor em 2016 e hoje conta com 141 países. Contudo, somando as contribuições nacionais de todos, não se alcança o mínimo desejado para limitar o aumento da temperatura média global a algo entre 1,5 e 2 graus Celsius até o fim do século; hoje, estima-se que o limiar esteja em 3°C.

Justamente quando o mundo precisa de lideranças que puxem suas metas para cima e, pelo exemplo, estimulem outros a segui-los, os EUA querem sair do jogo. Pelo menos a China e os países da União Europeia já estão tomando a frente. Ao Brasil também há a oportunidade de se firmar como protagonista, desde que vá além das suas metas nacionais de redução de gases-estufa. Isso inclui zerar o desmatamento em todos os biomas; investir em fontes de energia renováveis – solar, eólica, biocombustível etc.; e modernizar a agropecuária nacional.

A mudança global do clima é um dos maiores desafios do século 21 e traz tanto prejuízos quanto oportunidades. O presidente Donald Trump, infelizmente, foca apenas no lado negativo. Ele fecha os olhos para o fato de que o mundo está em transformação, rumo a um futuro mais sustentável e a uma nova economia de baixo carbono. Cabe, agora, aos demais países fazer a sua parte e potencializar seus esforços. Não há escolha nem tempo a perder.

André Ferretti é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, gerente na Fundação Grupo Boticário e coordenador-geral do Observatório do Clima.
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