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O filósofo Wesley Salmon diz que "a lógica trata de argumentos e conclusões, e um de seus propósitos é apresentar métodos capazes de identificar os argumentos logicamente válidos, distinguindo-os dos que não são logicamente válidos". Um argumento é uma inferência que deriva de premissas. Se não houver premissa alguma, não haverá conclusão, apenas uma opinião.

Quando argumentamos, emitimos uma afirmação ou uma negação, que pode ser submetida a dois critérios: o de verdade e o de correção. Do substantivo "verdade" originam-se dois adjetivos: "verdadeiro" e "falso". Do substantivo "correção" originam-se também dois adjetivos: "correto" e "incorreto".

De saída, um alerta: em lógica, verdadeiro e correto não são sinônimos. Uma declaração afirmativa ou negativa pode ser formalmente correta e não ser verdadeira, ou seja, pode ser falsa. O inverso também ocorre. A razão é simples: um argumento é formalmente correto se ele deriva logicamente das premissas. Mas pode ser falso se não houver evidências que apoiem e validem suas premissas.

Vejamos um exemplo: "Todos os homens são mortais. Pedro é homem. Logo, Pedro é mortal". A conclusão (inferência) "Pedro é mortal" é formalmente correta, pois deriva logicamente das premissas. Neste caso, a conclusão é correta e também verdadeira, já que as evidências garantem que todos os homens são mortais. Outro exemplo: "Toda vaca voa. Mimosa é uma vaca. Logo, Mimosa voa". Neste caso, a conclusão é formalmente correta, pois ela deriva logicamente das premissas. Mas a primeira premissa é falsa, pois vacas não voam. Assim, a conclusão é falsa, embora correta em termos formais. O erro está na primeira premissa, que é inválida porque não é verdade. E uma das definições de verdade em filosofia é: "é verdadeira a declaração que corresponde à realidade provada".

Essas são as primeiras lições do estudo de lógica. Há um capítulo que trata do Princípio da Correlação Incabível, presente quando tentamos relacionar uma característica a uma coisa sem a existência de nexo relacional. Certa vez, um deputado insistia em falar da tribuna dizendo que garantir-lhe a palavra era uma questão de justiça social. Como justiça social é expressão ligada à distribuição equitativa da renda nacional, a fim de evitar que uns tenham demais e outros morram de fome, o deputado fez uma correlação incabível. Não há nexo relacional entre as duas coisas. Um adolescente estudioso de lógica diria "Cara, nada a ver, se liga!"

Um dia, Roberto Campos discursava da tribuna e a deputada Maria da Conceição Tavares, economista brava e nervosa, pediu um aparte e disse: "Deputado Campos! Eu estou com o saco cheio desses monetaristas". Ele, que além de economista era graduado em Filosofia, levando a lógica ao pé da letra, respondeu: "Deputada Conceição, compreendo sua irritação, mas isso é uma impossibilidade biológica".

Claro que a frase é uma gíria popular. Mas ele, que não perdia oportunidade para mostrar sua erudição, devolveu a crítica com espirituosidade lógica. De vez em quando, no trânsito, ouço o programa A Voz do Brasil e fico pensando como faria bem a nossos políticos um curso introdutório de lógica formal; se não a todos, pelo menos a uma boa parte deles.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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