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Todo mundo sabe que muitos eleitores não gostam de "per­­der" seu voto e assim votam naqueles que, aparentemente, irão ganhar a eleição, o chamado "voto útil"

A angústia dos marqueteiros de Dilma Rousseff para provar que ela é uma boa cristã está chegando a extremos: o último foi fazer com que ela recebesse uma bênção em uma capela do Mercado Central de Belo Horizonte, uma coisa insólita, primeiro porque a capela que, segundo a imprensa local, não abre senão aos domingos, foi aberta especialmente para o ato político-litúrgico; e segundo porque os mercados e locais de comércio costumam ser mais comumente templos de adoração do Deus Mamon, o deus da riqueza material e da cobiça. Daqui a pouco, a pobre candidata estará tendo de mostrar sua fotografia de Primeira Comunhão e provar que sabe rezar a Salve Rainha. Coisas de marqueteiros...

Isso lembra a história do sueter do Dan Rather. Em 1980, a rede de televisão norte-americana CBS resolveu aposentar Walter Cronkite, que era o âncora de seus telejornais e o ícone máximo do jornalismo televisivo nos Estados Unidos. Cronkite era uma lenda do telejornalismo, as pesquisas o indicavam como um dos americanos em que os outros mais confiavam e não queria se aposentar, mas como a burrice corporativa pode ser infinita, a rede anunciou seu retirement. Para seu lugar, escolheram Dan Rather, outro jornalista famoso, agressivo, muito mais jovem, boa pinta, essas coisas todas.

Quando Dan Rather estreou, passada a curiosidade inicial, a audiência do CBS News começou a cair e vieram as indefectíveis pesquisas para saber por quê. Conclusão: o público achava que Rather não infundia a mesma confiança que Cronkite, era jovem demais e os telespectadores nunca o convidariam para padrinho de seu filho ou pediriam seu conselho antes de comprar um carro usado, o que, conta a lenda, acontecia frequentemente com seu antecessor. Solução? Providenciaram uma mudança de figurino e a partir daí, Dan Rather passou a usar um suéter por debaixo do paletó. Não sei de onde os magos do marketing tiraram que isso iria aumentar a respeitabilidade, mas certamente daria ideia de uma pessoa mais velha, preocupada com ventos encanados... Aliás, confirmando a teoria do impagável General Alcindo Gonçalves Pereira, Secretário de Segurança Pública do Governo Canet, que costumava dizer que, depois dos 60, os dois perigos mortais para o homem são vento pelas costas e mulher pela frente...

Essas coisas todas confirmam o grau de infantilismo da política brasileira. Não digo infantilismo do eleitor brasileiro porque acho que ele é muito mais inteligente do que essa turma que acha que pode mapear seus sentimentos e condicionar suas respostas como cachorros de Pavlov, que salivam quando o nome de Lula é pronunciado. O eleitorado demonstrou que estava mais atento do que se pensava às peraltices financeiras dos filhos e da família da Erenice e que, mesmo não entendendo exatamente o que é sigilo fiscal, viu que algo não estava certo naquela história de funcionários da Receita Federal se interessarem subitamente pelas rendas e o patrimônio de alguns opositores do PT. Pessoalmente, acredito que essas coisas tiraram mais votos da candidata governista do que suas opiniões a respeito da descriminalização ou não do aborto no Brasil.

Uma coisa certamente não pode continuar como está: as pesquisas eleitorais. A eleição de Beto Richa, com 400 mil votos de vantagem, quando as pesquisas indicavam um empate entre ele e Osmar Dias; a não-eleição de Gustavo Fruet, que as pesquisas apontavam como estando quinze pontos atrás de Requião e perdeu a eleição com 1,7% de diferença; e a própria votação de Dilma Rousseff, que até a última hora era tratada como pule de dez para ganhar no primeiro turno, mostram que as pesquisas se transformaram de um instrumento informativo em um mecanismo para induzir o eleitor a determinadas reações e comportamentos. Todo mundo sabe que muitos eleitores não gostam de "perder" seu voto e assim votam naqueles que, aparentemente, irão ganhar a eleição, o chamado "voto útil". Esse tipo de estímulo subliminar deve ser deixado para convencer as pessoas de que nove entre dez estrelas do cinema preferem um dado sabonete e não para promover um determinado candidato.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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