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O turismo no Brasil deu um salto gigantesco nos últimos anos. Não era sem-tempo nem sem-razão, pois nosso país tem todos os ingredientes para se transformar em uma potência no setor. Dizem os especialistas que o turismo depende de três esses: sun, sea and service (sol, mar e serviço). Os dois primeiros temos em abundância, o terceiro S está melhorando a olhos vistos com a profusão de novos hotéis e restaurantes e uma indústria receptiva de turismo que não é nenhuma maravilha, mas que permite crescentemente ao turista desembarcar em aeroportos modernos com banheiros limpos, tomar um táxi limpo e com ar-condicionado e não ser roubado na tarifa. É claro que transitar vivo ou não ser assaltado entre o aeroporto e o hotel é outra conversa... Mas já se fala que o turismo gerará US$ 10 bilhões ao ano dentro de três anos, tornando a atividade a maior fonte de receita cambial do país.

Esse é o tiro no alvo: finalmente estamos despertando para a importância do turismo. É claro que ainda estamos longe dos europeus, que atraem quase 100 milhões de turistas por ano, e mesmo do Caribe, mas estamos a caminho, auxiliados por uma característica dos próprios viajantes: a grande maioria deles adora uma novidade e é pouquíssimo fiel aos destinos que já conheceu no passado. De certa forma, viajar ainda é uma atividade que distingue seus praticantes, um galardão social. Há muito tempo aquelas malas cheias de etiquetas de hotel saíram de moda, mas com um pouco de jeito sempre é possível encaixar na conversa um episódio ocorrido em Paris ou nas Bahamas ou estabelecer uma comparação entre a vitela que se está comendo num restaurante curitibano com a verdadeira vitela preparada num restaurantezinho adorável em uma viela de Milão. Ir a mais lugares significa ser mais cosmopolita, ter mais "causos" internacionais a contar e isso tem lá seu valor para impressionar os amigos e as cunhadas.

Ora, turistas americanos, europeus e orientais endinheirados já foram às Bahamas, a Barbados, Santa Lucia, St. Marteen, ao Caribe inteiro, ao México, ao Chipre, às Baleares... Por que não o Nordeste brasileiro ou um safári fotográfico na Amazônia ou no Pantanal? Por que não um pouco de aventura tropical? Pour quoi pas? Why not? Per ché no? Porque turistas gostam de se aventurar, pero no mucho. É fácil imaginar o que devem estar pensando os candidatos a turistas franceses quando vêem na imprensa, horrorizados, que em um mês quatro compatriotas foram mortos por bandidos no Rio de Janeiro nas circunstâncias mais estúpidas! A falta de segurança pandêmica nas grandes cidades pode até ser metabolizada por nós, brasileiros residentes, mesmo porque não nos resta alternativa; mas imaginar que alguém vá se arriscar voluntariamente a levar um tiro em um lugar distante é um certo exagero. A não ser que se seja um daqueles "marines" americanos que vieram em férias para o Rio depois de passar um tempo no Iraque. Comparado com Bagdá, o Rio deve ser o paraíso em matéria de segurança.

O segundo tiro no pé vem da situação da aviação e dos aeroportos brasileiros. A nossa sorte é que uma boa parte dos turistas não entende português e portanto não é capaz de degustar a sabedoria das palavras do presidente da Infraero, que reduziu a importância da falta de energia no aeroporto de Brasília a uma questão "de eletricista", nem de descobrir que aparentemente os sistemas de segurança e de computação dos aeroportos brasileiros não têm uma qualidade essencial: a redundância de equipamentos e de pessoal. Qualquer sistema crítico tem de ter, ao lado, outro conjunto ocioso de equipamentos e pessoas prontos para entrar em operação em caso de falha. Qualquer pessoa com dois neurônios em perfeito estado (aliás, o cérebro tem um sistema redundante, pois dos dois lóbulos só se usa um) ficaria horrorizada se entendesse que o outrora magnífico Cindacta agora virou motivo de chacota pelas sucessivas panes que enfrenta e que os controladores de vôo no Brasil são em número insuficiente.

Enquanto os ferimentos desses tiros no pé não são curados, deixo uma sugestão para as autoridades do turismo: mandar preparar um pequeno dicionário/glossário de avisos de aeroporto. Assim, o turista estrangeiro saberá que a frase "devido ao aguardo de aeronave em trânsito, a companhia tal informa aos passageiros do vôo tal que o embarque de seu vôo está previsto para... (duas horas depois do horário original), podendo sofrer alteração". Isso pode ser traduzido para: "Estamos atrasados, não sabemos a que horas iremos decolar, mas acreditamos que você é trouxa suficiente para não ter percebido ainda".

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