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Caro governador Beto Richa, há muitos anos temos uma convivência fraternal. Poderia até dizer que se trata de uma amizade herdada de seu pai, o ex-governador José Richa. Um visionário que sempre apoiou as teses de sustentabilidade na constituinte. Um dos momentos mais marcantes do governo José Richa foi uma reunião em Cananeia, em 1986, com o então governador de São Paulo André Franco Montoro, com o propósito de se assinar um convênio entre os dois estados para conservar um dos principais complexos ecológicos do planeta, o Estuário Lagunar Iguape-Cananeia-Paranaguá.

Naquela reunião organizada pelas maiores lideranças ambientalistas do país, se decidiu pela criação de uma entidade não governamental a ser formada por empresários, cientistas e ambientalistas, entre outros, cuja missão principal seria o estabelecimento de uma nova agenda de sustentabilidade para o país. Essa entidade veio a se chamar Fundação SOS Mata Atlântica, que hoje representa uma das grandes referências ambientais no Brasil e no mundo.

O governo do Paraná tem deixado de assegurar a conservação do seu patrimônio ambiental

Aqueles eram outros tempos: o mundo não estava tão atento às questões de sustentabilidade, o que veio a acontecer a partir da Rio-92. Para se ilustrar a mudança de consciência sobre esses temas, é bom lembrar que na recente reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o tema do aquecimento global foi considerado como o de maior risco que o mundo enfrentará nos próximos anos. Quem diria!

Na sua gestão na prefeitura de Curitiba, o tema da biodiversidade foi levado a sério. Além de muitas parcerias importantes entre a prefeitura e a sociedade civil, a cidade sediou a COP 9 da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, reafirmando, desse modo, o seu compromisso com o desenvolvimento sustentável.

Com a criação do Programa Bioclima Paraná, em 2012, gerou-se muita expectativa de que o seu governo iria se tornar uma grande referência em termos de sustentabilidade. Mas, infelizmente, decorridos alguns anos, pouco ou nada aconteceu em termos práticos. Ao contrário, o governo do Paraná tem deixado de exercer o necessário poder de polícia para assegurar a conservação do seu patrimônio ambiental.

Em que pesem os esforços da sociedade civil paranaense e de alguns dos seus secretários de Meio Ambiente, a Polícia Ambiental do Paraná se encontra sem condições materiais de cumprir com a sua missão institucional. Tudo isso porque há anos pende de assinatura o convênio entre o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e a Polícia Ambiental.

Essa agenda tem sido objeto de nossas conversas nos últimos anos, sem que tenhamos conseguido avançar concretamente na ideia de tornar o Paraná uma referência em termos de desenvolvimento sustentável. Isso mesmo depois de Paris ter demonstrado que é possível e necessário promover uma agricultura com boas práticas de conservação da biodiversidade.

Caro Beto, lembro muito de uma citação de Santo Agostinho repetida por seu pai: “prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem”. Aproveitando da amizade herdada que nos une, dirijo-me ao amigo e governador para que abrace com sinceridade a causa do combate ao aquecimento global e conservação da biodiversidade. Assim continuaremos juntos nessa empreitada pelo planeta.

Fabio Feldmann, ex-deputado constituinte, foi o primeiro presidente da Fundação SOS Mata Atlântica e é presidente de honra do Programa Bioclima Paraná.
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