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A zona do euro, criada para ser uma união econômica, adotou a utilização de uma moeda única em 2002 com o objetivo de facilitar o comércio e os negócios entre os países membros, além de assumir maior representatividade política. Dez anos após sua criação, vive a sua crise mais intensa, decorrente ainda do choque iniciado anos atrás, com a quebra do Lehman Brothers. A situação atual pode pôr fim definitivo às pretensões da região, ou induzir a criação de mecanismos que venham a fortalecê-la diante dos novos desafios.

A atual crise é decorrente de problemas na dívida soberana dos países, principalmente os ditos periféricos, notadamente os chamados Piigs – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha –, somados às falhas na regulação bancária, que têm os seus efeitos ampliados a partir do temor do mercado financeiro. Tais fatos, se não enfrentados, podem levar o bloco ao esfacelamento.

Quando se trata de uma integração econômica desse porte, faz-se necessário que interesses isolados sejam sobrepujados em prol de ganhos mútuos, muitas vezes com sacrifícios necessários para o enfrentamento de dificuldades. Assim, a encruzilhada atual apresenta duas possibilidades antagônicas: reconsiderar o pacto firmado ou assumir o ônus das dificuldades. Não se pode acreditar que a indisciplina fiscal adotada por alguns países mereça ser premiada com o simples perdão, ao custo daqueles que se obrigaram ao dever da parcimônia. É fundamental a criação de regras, punições e sacrifícios para a correção dos orçamentos dos mais endividados, essencial neste ambiente globalizado e sob a égide do capitalismo financeiro.

Mas tampouco se deve entender que a resposta exclusiva da austeridade seja suficiente. A cumplicidade dos países de maior poder econômico, como a Alemanha, país credor e nação hegemônica da região, é fundamental. A ortodoxia do banco central alemão, influenciada pela excessiva preocupação com a inflação e relativa frieza diante da recessão, faz que as medidas necessárias ocorram tardiamente. Indubitavelmente, ajudas como as realizadas recentemente, com a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de comprar de maneira ilimitada bônus governamentais nos mercados secundários, se farão necessárias.

Os atuais auxílios realizados têm servido mais como um analgésico para a febre que propriamente como uma resolução do problema. A continuidade na utilização de doses pouco homeopáticas de liquidez, com o auxílio de outros órgãos supranacionais, poderá estimular a retomada do crescimento e a saída da crise.

A maestria na condução das medidas de enfrentamento à crise será determinante para o sucesso. Além disso, a combinação de austeridade fiscal nos países endividados e a injeção de liquidez a partir dos países centrais, passando, inclusive, pela desvalorização do euro e pelo aumento da competitividade dos países membros, poderá possibilitar a prosperidade futura da região. O caminho é lento e seguirá pela continuidade de cortes de gastos nos Piigs e pela maior agilidade no auxílio financeiro por parte dos países credores.

Carlos Cleto é professor de Macroeconomia da FAE Centro Universitário.

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