| Foto: Federico Parra/AFP

A Venezuela vem passando, no último mês, por uma série de manifestações populares que muitos ainda não viram. Desde o começo do governo Maduro, em 2013, a oposição venezuelana vem se mobilizando com o sonho de novos tempos no país. Mas o governo vem endurecendo cada dia mais, dificultando a vida não apenas daqueles que trabalham na oposição, mas também de todos os venezuelanos.

CARREGANDO :)

O país entrou em colapso financeiro. A inflação corroeu o salário mínimo, que permite a compra de apenas três quilos de carne bovina, em valores de abril de 2017 – isso quando há carne disponível para venda... Não é possível mais comprar dólares pelo câmbio oficial. A compra da moeda americana só está disponível no mercado paralelo. Nessa cotação, o salário mínimo corresponde a apenas US$ 7,83, em valores de maio.

Que “revolução bolivariana” é essa que priva a população de mantimentos básicos?

Publicidade

No âmbito político, há passeatas diárias e já foram presas 1.126 pessoas, principalmente jovens e políticos. Para instalar o medo, muitas dessas pessoas continuam presas. Entretanto, o governo já tirou tanto da população que seu medo de defender publicamente um país próspero e um futuro melhor já se foi. Recentemente, até um grupo de militares, que decidiu manifestar seu descontentamento com o governo, foi preso. Episódio parecido ocorreu com o então tenente Hugo Chávez, detido em 1994 por rebeldia contra o governo.

Apesar de tudo isso, o presidente Maduro e seus auxiliares dizem estar promovendo a “Revolução do Século 21”, em prol do povo venezuelano e inspirada em Simón Bolívar, libertador do país. Mas que tipo de revolução seria essa que tira a liberdade daqueles que fazem oposição a suas ideias? Uma revolução que priva a população de mantimentos básicos? E que, quando chega comida nos supermercados, limita a sua compra por semana? Uma revolução na qual o cidadão não pode ir e vir por insegurança?

Nas últimas semanas, o presidente chegou a anunciar que iria convocar uma nova Assembleia Constituinte, para refazer a Constituição, criada por seu padrinho político e antecessor Hugo Chávez em 1999, ao assumir o poder. Com isso, Maduro pretende endurecer mais ainda o regime.

Leia também:Venezuela: a emergência que se tornou permanente (artigo de Andréa Benetti, publicado em 26 de abril de 2017)

Leia também:A constituinte do ditador (editorial de 3 de maio de 2017)

Publicidade

Na política externa, a Venezuela vem atacando os países opositores nos organismos internacionais, acusando-os de corruptos, ilegítimos e de desejar, de alguma maneira, intervir em seu país. Além disso, a Venezuela está entre os poucos países que não podem participar da Cúpula das Comunidades Democráticas, por não ser considerada uma democracia.

Afinal, trata-se de uma revolução ou uma ditadura?

Pedro Rafael é bacharel em Relações Internacionais pelo Iuperj e especialista do Instituto Millenium.