O Brasil é uma festa. Acaba de sediar a Copa das Confederações, está a um passo da Copa do Mundo de 2014 e na antessala da Olimpíada de 2016. Recebeu o papa para a Jornada Mundial da Juventude. Há ainda a possibilidade de sediar a Exposição Mundial de 2020, a mais importante feira de eventos do mundo, em São Paulo. Não é uma festa?

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Sim, é uma festança. Vai gastar R$ 28 bilhões na Copa do Mundo de 2014, quase quatro vezes mais do que a realizada na África do Sul em 2010 (R$ 7,3 bilhões) e quase três vezes mais que a da Alemanha, em 2006 (R$ 10,7 bilhões).

Quem olha de fora deve imaginar como é rico este país e de quanto prestígio desfruta. Com tanta pompa e bilhões de reais em jogo, fico imaginando as propagandas turísticas e os esforços de agentes de viagens em trazer turistas e visitantes ao nosso rico e pujante país sempre do futuro.

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Mas o que eu gostaria que acontecesse, sem colocar gosto ruim, não é a vinda de turistas para usufruir de alguns dias ou semanas desses espetáculos e dessa falsa maquiagem, nem das viagens ecológicas para conhecer o Pantanal ou a Amazônia. Gostaria de que viessem para uma estada mais prolongada no "estilo brasileiro", para viver o dia a dia das nossas cidades, nas capitais ou no interior. "Venha conhecer o Brasil no estilo brasileiro" – este bem que poderia ser o slogan da campanha publicitária.

Ao se hospedarem, não seria em hotéis ou pousadas luxuosas, pois nossos agentes de turismo sugeririam quartinhos em alguma favela ou algum puxadinho em terrenos invadidos à beira de encostas prestes a deslizar, sem luz elétrica ou água encanada e com esgoto a céu aberto. Os turistas que comprassem este pacote não poderiam usar dólares ou euros para seus gastos, contariam apenas com o salário mínimo ou recursos do Bolsa Família. Dessa forma, eles não conseguiriam alugar carros confortáveis ou táxis especiais e teriam de trafegar por nossas ruas muito bem asfaltadas e sinalizadas, sem remendos ou buracos; o uso do transporte público seria obrigatório para os interessados nessa nova modalidade de viagens. Obrigatório seria também passear por nossas muito bem cuidadas calçadas e, caso fosse turista com necessidades especiais, melhor ainda. Seria obrigado a visitar o Centro e os bairros de nossas cidades para sentir na pele a segurança que nos é oferecida pela polícia.

Bares e restaurantes estarão vedados a esse tipo de excursão e os turistas receberão vale-refeição. Para se deslocar a outra cidade ou estado não usarão avião, mas terão de ir a uma bem-estruturada rodoviária, sem precisar enfrentar fila e usufruir de um limpo e cheiroso banheiro. Depois, é só relaxar e curtir a viagem em nossas bem pavimentadas, duplicadas e seguras rodovias.

Parte do roteiro incluirá visita à ilha da fantasia na capital federal e ao Congresso Nacional, onde o turista poderá conhecer alguns dos brilhantes parlamentares de alto nível ético e desfrutar de seus discursos moralizadores. Seriam obrigados a ver e ouvir o horário político-partidário pela tevê com péssimos atores vendendo o Brasil dos sonhos.

Ao finalizar a viagem, os excursionistas obteriam um diploma de "conhecedores da realidade brasileira", com uma tremenda alergia pelos anúncios turísticos. Essas douradas propagandas que mostram o Brasil do Carnaval, praia e futebol não esconderiam a frustração que eles já terão conhecido e vivido. Mesmo assim, se o turista resolver viver neste país sempre do futuro, ele poderá dizer que é descendente de índio ou negro. Ou, então, fundar uma igreja. Ele vai se dar bem.

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Cláudio Slaviero, empresário, é ex-presidente da Associação Comercial do Paraná e autor do livro A vergonha nossa de cada dia.