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A maior parte tem entre 21 e 35 anos, é homem e optou por este tipo de veículo para substituir o transporte coletivo. Esse é o perfil do motociclista brasileiro, que tem chamado atenção não só pela ocupação em massa no trânsito de grandes e médias cidades, como também pelo crescente número de acidentes em que está envolvido. Somos o segundo país onde mais motociclistas morrem vítimas de acidentes de trânsito – são sete mortes para cada 100 mil habitantes. E esse índice tem aumentado a cada ano, de acordo com estudo do Instituto Sangari divulgado em maio e que aponta também outra triste realidade: até o fim de 2012, mais 13 mil motociclistas deverão morrer em vias brasileiras – mais de 40% deles, no próprio local do acidente devido à violência do impacto.

No entanto, culpar apenas os motociclistas pela tragédia que se instalou no trânsito seria no mínimo injusto e, em última instância, desonesto. A responsabilidade passa por quem regulamenta e fiscaliza o trânsito, pelos centros de formação de condutores, por quem oferece infraestrutura e segurança nas vias (ou deveria oferecer), entre tantos outros.

Especificamente sobre a formação de motociclistas paira uma série de dúvidas. É realmente possível reproduzir as condições das ruas em circuitos fechados? As 20 aulas práticas de 50 minutos cada são suficientes para garantir a circulação de novos condutores? E como testar as possíveis situações de conflito que os motociclistas podem vivenciar no trânsito?

Certamente é preciso avaliar os vários aspectos que circundam a questão. Motociclistas guiam por pistas esburacadas, com obstáculos, desníveis, em corredores de tráfego intenso, entre condutores e pedestres descuidados, além de, muitas vezes, ficarem no ponto cego dos motoristas. Mais que uma prova de equilíbrio e conhecimento das regras de circulação, o exame prático para a obtenção da habilitação deveria considerar a habilidade (como sugere o próprio nome) e a destreza do condutor, além de treinar a agilidade de reação diante de imprevistos. Por isso, a realização de provas práticas deveria ocorrer também nas vias de trânsito intenso.

Não há dúvida de que as autoridades precisam enfrentar um verdadeiro desafio, o de frear a violência no trânsito, especialmente aquela que envolve as "vítimas sobre duas rodas". Desafio que começa com o aumento da fiscalização, com blitze permanentes e em locais diversificados onde seja possível verificar documentação, itens de segurança e permissão de uso profissional do veículo (motofrete e mototáxi).

Também é dever dos motoristas respeitar o espaço das motos, que, em relação aos veículos, são mais vulneráveis. E essa orientação pode partir de quem forma novos condutores, por meio da revisão dos cursos de formação. Apresentar aos futuros motoristas a nova configuração desse cenário – que nos últimos anos se transformou a ponto de 50% das pessoas que adquirem motos buscarem-nas para substituir o transporte público e o carro – é essencial para uma convivência menos traumática para todos.

Devemos também melhorar as ferramentas de fiscalização, o planejamento da infraestrutura viária – calculando o crescimento da frota – e o esforço em campanhas contínuas de educação. Finalmente, seria necessário encontrar formas de melhorar o transporte coletivo, tornando-o mais seguro, ágil e acessível para que ele seja uma opção ao usuário que, atualmente, migra para as motocicletas.

Maria Amélia Franco, especialista em Gestão de Trânsito e Mobilidade Urbana pela PUCPR, é gerente de Marketing da Perkons, empresa especializada em segurança viária e gestão de tráfego.

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