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O Fundo Monetário Internacional (FMI) ficou repentinamente pessimista com o Brasil. Em relatório divulgado na quinta-feira, o organismo aponta a impossibilidade de o nosso país chegar ao fim deste ano com crescimento superior a 3,3% – uma taxa menor em 0,4 ponto porcentual em relação à previsão anterior, de 3,7%. Para 2006, a estimativa do FMI também é bastante modesta, atribuindo ao Brasil um crescimento de apenas 3,5%. Em ambos os casos – isto é, para 2005 e 2006 – o desempenho brasileiro situa-se na rabeira entre quase todos os demais países da América Latina e abaixo também da média mundial.

O pessimismo do FMI baseou-se na constatação de que tivemos um primeiro semestre ruim, muito abaixo das expectativas que vinham sendo impulsionadas pelos 4,9% de crescimento do PIB registrados em 2004. À falta de um índice melhor naquele período somam-se agora pelo menos dois outros fatores de risco: os altos preços internacionais do petróleo e as possíveis repercussões da incerteza política que vivemos neste momento.

Estranhamente, o organismo não reputou como importantes os principais freios ao desenvolvimento que continuaram sendo aplicados, ainda com muito mais rigor, durante este ano, quais sejam a exorbitante taxa de juros e a manutenção de elevado superávit primário. A estranheza em relação à análise do FMI decorre do fato de que os fatores de contenção são, exatamente, os principais pilares do receituário que o organismo recomenda aos países que precisam reorganizar suas economias.

O país cresce pouco, sim. Poderia crescer muito mais não fosse o desestímulo aos investimentos produtivos provocado pelo juro alto – aliás, o mais alto do mundo! – com o qual vimos convivendo há tanto tempo. Poderia crescer também muito mais se os investimentos públicos, principalmente em obras de infra-estrutura, não tivessem chegado a um nível próximo do zero em razão do enorme superávit primário a que o país vem se submetendo.

Não se defende, aqui, a irresponsabilidade. Não argumentamos contra a eficácia do juro como remédio para conter a inflação, nem condenamos a necessidade de parcimônia na utilização de recursos públicos para gerar superávits suficientes para manter em regime de normalidade a administração das dívidas interna e externa. O que se discute é a medida com que tais instrumentos macroeconômicos são aplicados. Trata-se de uma questão de dosagem – e, em ambos os casos, a dose elevada certamente deve ser a principal responsável pela previsão de crescimento insuficiente agora apontada pelo Fundo Monetário.

O Banco Central parece ter acordado, enfim, para a necessidade de flexibilizar sua política monetária. A ata do Copom, divulgada ontem, confirma o sentimento geral de que há espaço para a diminuição progressiva da taxa de juros, já que a inflação dá mostras de que chegará ao fim deste ano dentro da meta de 5,1%. Agora só falta o governo vencer a paralisia em que está prostrado e abrir seus cofres para investir em obras de base. Quem sabe, assim, possamos contrariar a previsão do FMI e não precisemos amargar mais um ano de crescimento pífio.

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