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O Paraná comemora o centenário de nascimento de Bento Munhoz da Rocha Netto (Paranaguá, 1905 – Curitiba, 1973). Ele foi e continuará sendo historicamente um ser humano de múltiplas camadas. Engenheiro, escritor, parlamentar, professor, governador, ministro de Estado, enfim, um generoso benfeitor da cidadania. Bento – como é carinhosamente lembrado – é exemplo para as gerações do presente e do futuro que precisam e devem viver o sentimento paranista. Este fenômeno, social, cultural e espiritual é uma conjugação de duas importantes virtudes: a afeição pelo nosso povo, nosso progresso e nossas coisas e o civismo que deve pulsar no coração de todos os cidadãos de boa vontade que habitam a terra de todas as gentes.

Após a queda da ditadura Vargas (1937–1945) e com a reconquista da democracia, Bento elegeu-se deputado à Assembléia Nacional Constituinte. Empossado em fevereiro de 1946, apresentou a emenda que suprimiu o território do Iguaçu. Aquela malsinada experiência divisionista fora agasalhada pelo Estado Novo, nos anos de 1943 a 1946, mas repelida pelos constituintes federais. Munhoz da Rocha foi um dos signatários da moção repudiando o Estado Novo. Outra iniciativa meritória foi a restauração da Universidade Federal do Paraná, que fora desmembrada em 1915, propondo que nela se integrassem as diversas faculdades existentes no estado. O imortal paranaense exerceu o cargo de ministro da Agricultura, por nomeação do presidente João Café Filho (1899–1970). No pleito de outubro de 1958, elegeu-se novamente deputado federal. Ele foi também um dos responsáveis pelo apoio à integração racial de estrangeiros e paranaenses e das correntes migratórias internas de nosso país.

Como governador, Bento realizou fecunda administração. Construiu centenas de grupos escolares e postos de puericultura; criou a Fundação de Assistência ao Trabalhador Rural e a Secretaria do Trabalho e Assistência Social; iniciou a edificação da usina Termelétrica de Figueira e o asfaltamento de grandes rodovias, como os trechos Londrina–Apucarana e parte da Rodovia do Café (Ponta–Grossa–Paranavaí); fundou a Copel e as casas rurais e concluiu o Porto de Paranaguá. Nesse conjunto de obras de impacto social, político e cultural se destacam a Biblioteca Pública, o Teatro Guaíra (com a inauguração do pequeno auditório) e o Centro Cívico, compreendendo as casas dos três Poderes e o edifício do Tribunal do Júri.

Munhoz da Rocha deixou muitos livros, destacando-se Uma interpretação das Américas (1948); Radiografia de Novembro (1956); Itinerário (1958) e Presença do Brasil (1960). Uma valiosa reunião de escritos sobre o Paraná, os destinos do Brasil, bem como as esperanças e ceticismo de Bento Munhoz da Rocha Netto, foi editada pela Coleção Farol do Saber, em 1995, com magnífico texto de introdução de Luís Roberto Soares. É mais um endereço de pesquisa para conhecer melhor a obra, vida, paixão e ressurreição dessa imensa figura humana e política.

"Um homem do Paraná e das Américas", como foi dito por Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, ao saudá-lo no ingresso na Academia Paranaense de Letras (1967).

O ex-deputado Norton Macedo, em texto lúcido e sensível, disse, há quase vinte anos, palavras da maior atualidade e que devem ser reproduzidas: "Talvez nunca a Nação houvesse requerido tantas e tão decisivas definições econômicas, sociais e políticas. O país ganhou densidade, personalidade, relevo internacional. Fazem falta a presença de Bento e a de homens como ele". (Perfis Parlamentares, introdução).

No discurso de posse na Academia Paranaense de Letras (1967), Bento Munhoz da Rocha Netto, após afirmar que "o nosso pioneirismo é uma glória nacional", concluiu que "pela importância crescente do estado, estamos vencendo nossa clássica e amarga tendência ao isolacionismo. Já começamos a julgar que os outros não são necessariamente melhores".

Palavras de Bento, o inesquecível estadista.

René Ariel Dotti é advogado e professor universitário. foi conselheiro estadual da OAB.

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