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Governador do Paraná, empossado em 31 de janeiro de 1951, Bento fundou a Copel (Lei estadual 1.384, de 10.11.1953), que se transformou, graças ao comando do engenheiro Pedro Parigot de Souza e ao trabalho de seu excelente corpo funcional, na mais eficiente e lucrativa estatal hidrelétrica do Brasil.

Bento aparelhou o Porto de Paranaguá, organizou as Casas Rurais, criou a Fundação de Assistência ao Trabalhador Rural e deu ênfase à cultura, edificando a Biblioteca Pública e o Teatro Guaíra. Sua grande obra, porém, foi a construção do Centro Cívico (mais tarde denominado Centro Cívico Governador Munhoz da Rocha), reunindo em um só conjunto arquitetônico o Palácio Iguaçu e Secretarias de Estado, a Assembléia Legislativa, o Palácio da Justiça, Tribunal do Júri, Tribunal de Contas e a Prefeitura de Curitiba.

A concepção do Centro Cívico vinha do urbanista Alfred Agache, responsável pelo Plano Agache, década de 40, que planejou e definiu os principais rumos urbanísticos de Curitiba. Bento teve o mérito de levar avante a idéia, nomeando a Comissão Especial de Obras do Centenário (em 19.12.1953 o Paraná completava 100 anos de emancipação política), dirigida pelo paranaense, professor de engenharia, Elato Silva. O também paranaense, professor e engenheiro David Xavier Azambuja elaborou o projeto técnico do Centro Cívico, em conjunto com os arquitetos Flávio Amilcar Regis do Nascimento, Olavo Regis de Campos e Sergio dos Santos Rodrigues.

A geada de 1953 que dizimou os cafezais do Paraná, à época o maior estado produtor de café, e a crise financeira que se seguiu, atrasou a execução dos empreendimentos, mas o essencial foi terminado e os governos posteriores não interromperam os serviços.

Em 26 de junho de 1954, o jovem engenheiro civil Ivo Arzua Pereira foi nomeado pelo governador Munhoz da Rocha para engenheiro chefe das construções do Centenário do Paraná, cabendo-lhe comandar a equipe que concluiu o Palácio Iguaçu, inaugurado em 19 de dezembro de 1954, a Biblioteca Pública, o Tribunal do Júri, o Pequeno Auditório do Teatro Guaíra, o Monumento do Centenário do Paraná, a Praça 19 de Dezembro e a Academia de Letras do Paraná.

O arrojo, tenacidade e visão de futuro de Bento Munhoz da Rocha Neto garantiram-lhe lugar de relevo no panorama político, com destaque nas programações do 1.º Centenário, a que compareceram personalidades e representantes dos estados brasileiros e de países de vários Continentes, valendo mencionar a realização em Curitiba da 1.ª Conferência Mundial do Café. Cintilaram a simpatia, os conhecimentos enciclopédicos e os pronunciamentos convincentes do governador. Contribuiu, igualmente, para o êxito das comemorações a presença do presidente Getúlio Dornelles Vargas, que aproveitou a caixa de ressonância das festividades para anunciar, em Curitiba, que enviaria mensagem ao Congresso Nacional criando a Eletrobrás.

A excelsa dama paranaense, a escritora Flora Munhoz da Rocha, viúva do Bento, saudável física e intelectualmente nos seus 94 anos, participa juntamente com as autoridades e a população paranaense das justas reverências ao seu saudoso esposo. Em artigo publicado na imprensa, em junho de 1954, Flora relembrou a notável coincidência de que em 1953, ano do 1.º Centenário da Emancipação Política do Paraná, três bisnetos de Caetano José Munhoz presidiam os três poderes no estado: Bento Munhoz da Rocha Neto, governador, Partido Republicano; deputado Laertes Munhoz, presidente da Assembléia Legislativa do estado, União Democrática Nacional; e José Munhoz de Mello, presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, que anteriormente se elegera deputado federal constituinte, em 1945, pelo Partido Social Democrático.

Não houvessem os imprevistos da atividade política, Bento poderia ter sido candidato à Presidência ou a Vice-Presidência da República, tal o estupendo conceito que desfrutava nos primeiros anos da década de 50, reflexo de sua brilhante atuação na Constituinte de 1946, na 1.ª Secretaria da Câmara dos Deputados e, principalmente, como governador do Paraná, pós-1951, e a retumbante repercussão dos festejos do 1.º Centenário.

O suicídio do presidente Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954 mudou o curso da história. Galgou o posto no Palácio do Catete o vice-presidente João Café Filho, compadre e amigo íntimo de Bento, os dois deputados federais na Constituinte de 1946.

Se Bento continuasse na chefia do Executivo do Paraná, o presidente Café Filho poderia ter coordenado e lançado sua candidatura a vice ou à Presidência da República para disputar com Juscelino Kubitschek, em 1955, com probabilidades reais e efetivas de sucesso, em função de seu prestígio alastrado por todo o país por conta de sua privilegiada inteligência, comprovada honorabilidade, assinaláveis dons oratórios e proficiente gestão governamental.

Contudo, cometendo grave erro de avaliação o presidente Café Filho preferiu tê-lo próximo a si no Ministério da Agricultura, de parcas dotações orçamentárias, ofuscado pela ação de resultados concretos e imediatos da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil (Creai).

Ademais, Café Filho foi enredado nas tramas golpistas da UDN de Carlos Lacerda e envolvido pelos acontecimentos, sustentando a candidatura presidencial do general Juarez Tavora (derrotado por Juscelino), culminando com o seu internamento hospitalar e afastamento do cargo, o mesmo ocorrendo com seu substituto legal Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, por força do movimento militar chamado "retorno aos quadros constitucionais vigentes", de 11 de novembro de 1955, liderado pelos generais Teixeira Lott e Odilo Denys. Coube ao presidente do Senado Federal, Nereu Ramos, dar posse a Juscelino Kubitschek na Presidência da República. Como sempre na sua linha de lealdade e coerência, Bento permaneceu fiel a Café Filho e a seu grupo de sustentação.

A trajetória política e os exemplos dignificantes do cidadão e homem público Bento Munhoz da Rocha Neto configuram o perfil de um autêntico estadista, reconhecido pelo povo, orgulho do Paraná e do Brasil e exemplo a ser seguido pelas gerações futuras.

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