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Com a CPI dos Correios em ebulição, o Senador Jefferson Peres (PDT-Amazonas), cuja atuação soma radicalismo na ética e equilíbrio na política, sugeriu recentemente a seus pares que agissem com responsabilidade, poupando o presidente Lula nas investigações – nos limites da legalidade – para não lançarem o país em crise institucional e social.

Ou seja: que, protegida pelo apoio da sociedade, a CPI fosse capaz de fazer com que os trabalhos ocorressem de modo a que, também dentro da legalidade, a instituição Presidência da República fosse preservada de maiores riscos. Seus argumentos se baseavam em que economia vive momento favorável, os mercados não estão sob risco, a sociedade sempre soube reagir às crises e o presidente ainda tem boa popularidade.

Portanto, seria preciso que todos tivessem em mente, não como aliados ou adversários do governo, que vivemos uma situação incerta, que enfraquece uma economia que marcha bem – não esqueçamos que Jefferson Peres tem feito feroz e lúcida oposição ao governo.

Mas, dados da última pesquisa Ibope dão nota 6 a Lula, enquanto sua avaliação positiva subiu de 35% para 36% em julho, mesmo porcentual de junho, significando que sua imagem não mudou com as denúncias – 47% dos brasileiros não crêem ele esteja envolvido em corrupção. Presumindo-se que, superada a crise, a política econômica deva seguir seu curso, com o ministro Antônio Palocci e o Banco Central usando os mesmos instrumentos que têm usado, e que a ponderação do senador seja correta, se esboçaria um cenário razoável para o presidente.

A mesma pesquisa indica que há perspectivas de ele ser reeleito em 2006 – em disputa com alguns nomes, em primeiro turno, e em segundo, com outros. Em relação à média dos investidores, considerando-se o raciocínio de Peres e a chance de Lula superar a crise política – o que dependerá, claro, do desenrolar das investigações da CPI –, supõe-se que a marcha da economia poderá dar ao presidente um trunfo importante. É o que afirma o jornal britânico Financial Times, segundo o qual, apesar das CPIs e da fragmentação da base governista, a sociedade brasileira tem dado provas de que zela pela estabilidade econômica, mantida pelo governo petista.

Nesse aspecto, o jornal avalia que a estabilidade – aliada a um ambiente externo favorável, com juros baixos, altos preços das commodities e ampla liquidez – pode ajudar a reduzir as preocupações e a angústia do presidente, embora não o leve do purgatório ao paraíso.

Baseando-se nessa linha de reflexão, o senador Jefferson Peres julga prematuro e arriscado qualquer avanço na discussão de um impeachment, pelo menos até se comprovar a responsabilidade do presidente (se houver) nos mensalões e no caixa 2 do PT.

Para o Financial Times, circunstância que seria igualmente preocupante para o governo poderia ser mais atrasos nas reformas, principalmente a tributária – já que a reforma política, que se tornou subitamente prioritária, demandaria tempo, paciência, diálogo e, sobretudo, competência. Os últimos indicadores dão razão ao jornal inglês e ao senador amazonense, na medida em que encaramos o terrível conflito entre uma grave crise política, que pode custar o "escalpo" de Lula – termo usado pelo jornal inglês – e uma economia que tem tudo para crescer mais se essa mesma crise não debilitar o seu potencial de crescimento.

Na segunda semana de junho, segundo estudo da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os PIBs agropecuário, industrial e do setor de serviços registraram alta de 3,29%, 3,7% e 2,49%, respectivamente. São dados que, num país carcomido pela corrupção e carente de melhoria na área social, não passam despercebidos pelos investidores que, apesar de reconhecerem sua complexa e desfavorável situação, ainda acreditam que há saídas para a crise atual.

Miguel Jorge, jornalista, é vice-presidente de Recursos Humanos e Assuntos Corporativos e Jurídicos do Santander Banespa.

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